sábado, 28 de agosto de 2010

.........

Fecho os olhos e sigo em frente.

Temo os mais comuns desafios, como qualquer ser humano. Creio que não exista um grau comparativo entre o sentimento de medo presente em mim, e o medo presente no coração de outrem. Busco. Espero uma constante na minha vida, talvez, uma equação devidamente equilibrada ou, na verdade, não procuro uma equação apenas pra mim. Quero fazer parte de uma equação singela entre nós dois, de forma que um busque o equilíbrio do outro.

Paro e penso.

Desafio uma legião de monstros, todos fantasiados de cartas de baralho. Procuro uma enorme mesa de chá, onde possamos sentar e tomar chá por horas, que o fulgor da chama do cigarro se faça presente. Não quero molduras. Não quero quadros. Não quero janelas.

Correis aos meus braços, apertai-me com força. Sinta-se segura. Abrace-me. Sinta o calor do meu corpo, o toque da minha pele. Torna-te ébria em bons pensamentos.

Corra pra mim.

Eu fecho os olhos de novo. A cada fechar dos olhos busco o infinito, o infinito na escuridão de mim mesmo.

Deito o corpo no leito. Fecho os olhos. Procuro o teu abraço. No pequeno estofado, a imensidão da tua ausência.

domingo, 4 de julho de 2010

Espelho

Me encaro no espelho, vejo as marcas do tempo e as marcas das condições com que enfrentei o tempo. Perdi tempo. Ganhei tempo. Me consumo em dúvidas e questionamentos contínuos que não me levam a nada, a não ser a eterna dúvida. O espelho me entorpece em dúvidas. Me enche de "Será's".

O espelho esconde mais segredos do que o vazio que se esconde por detrás dele, me afogo nas dúvidas da existência e do vil sabor do prazer. Com salvas. E mesmo que eu me compreenda entre dois espelhos, mesmo assim me sinto preso a um mundo de infinitas cópias de mim mesmo, a cada cópia, um de mim. Para cada pessoa uma cópia. Uma mistura daquilo que eu sou com aquilo que querem que eu seja.

Eu permaneço aqui, nos meus moldes. Fixei meus campos e aqui eu tenho meu cultivo. Semeio ventos, faço colheitas de tempestades, afinal, calmaria não move caravela.

Lá e de volta outra vez, sim, como se numa encruzilhada eu me encontrasse, sem saber para onde correr, que lado escolher. Duas faces de uma mesma moeda que pende frente aos meus olhos como se me hipnotizasse. O paradoxo da excelência desvirtuado pela imensidão da razão. Demência. E por mais que se faça presente dentro de um mesmo [nada] outro nada. Então eu estou dentro do espelho. Preso entre quatro paredes que tentam refletir aquilo que eu sou. Reflexo. [Nada].

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vênus IV

Comecei com um singelo e único aprendizado, num repente tudo parece ruir. Ruir como uma forma de me ensinar a profundidade da digressão: ônus, eu sei o quanto essa palavra pesa na minha vida, também sei muitos dos resultados dos quais a simples poeira que paira sobre os meus calçados de sair representa.

Por mais que seja uma simples limpeza, essa limpeza representa mais do que uma profundidade obscura dotada de um significante incomum. Por mais que eu caminhe sobre ossos e que em um cemitério tudo o que se faz presente é a simples ausência. Posar para um retrato sob uma sepultura é tão digno quanto simplesmente respirar: Era simples, a senhorita prostava-se ali, sentada sob a laje fria com uma simples cigarrilha por entre os dedos, eu prostava-me por detrás do cavalete. Um simples moderno senhor que palpitava as tintas sob a tela, refletindo ali o pleno retrato da ausência, era ela, a Vênus dos sonhos contornada por uma aura de constante volúpia e gozo.

Traço após traço, eu a distinguia das maneiras cotidianas do ser, via ali a essência da essência, os seios palpitantes sobre o lenço que cobria a barriga, apoiada por entre os anjos mais sádicos que Tereza D'Ávila já fitou. As setas que voltadas para ela indicavam a total profanação angelical do ser, explicavam os gemidos constantes que aquela mulher exarcebava por entre as inúmeras sepulturas de tom acinzentado que ali haviam. O pincel pairava então sobre o desenho do seu seio, delicado e macio, que mesmo sem tocá-los era possível sentir o turbilhão sinestésico que ali se fazia presente.

Continuamente, eu limpava os pincéis como se cada instante pudesse ser o último e o último do último, os traços eram fortes e rápidos, efêmero, simples, tudo indicava movimento, como a roda de um moinho que nunca pára frente a decorrência freqüente da fúria arrasadora de um rio; assim era o retrato desse retrato, foi assim que pintei minha Vênus. Ali, semi-nua sob um simples pedaço de seda vermelha, estendida sobre uma lápide que outrora oferecia paz ao ser que embaixo daquelas pedras encontrava-se descansando, mas que agora no auge do ardor necrófilo da Deusa, se contorcia em volúpias enquanto eu como seu amante a pintava.

No fulgor do vinho que meu desenho se tornava horrendo e belo, efêmero e sarcástico, como se em seus traços apenas se formassem rabiscos incontínuos e gotas inquietas de tinta vermelha que pairavam sobre a tela. Ela como bondosa e sábia elogiava meus traços, eu via a imensidão que era aquela simples tela, que não passava de cinqüenta centímetros de arestas, mas que representava a grande devastação que em mim se fazia presente. Presença da ausência. Bem comum. Bem singelo.

Aquela sepultura nunca mais será a mesma – me disse ela – Deitamo-nos sob a seda vermelha que antes a cobria. Movimentos exaustivos. Éramos mortal e uma Deusa, concatenados pela avassaladora volúpia que seus suspiros emanavam pelo campo morto. Daquela noite, pouco mais que isso me recordo, fui tomado por uma inconsciência súbita que não sei se advinda do vinho ou daquele corpo que me sugava, a tela que eternizava minha Deusa, se perdeu com a alvorada. Na verdade, tudo se perdeu.

sábado, 12 de junho de 2010

Espaço

Naquela imensidão que se faz sempre presente a total ausência. Nas luzes do crepúsculo que meu pensamento divaga por distâncias imensuráveis.

Eu que sempre pensei no simples e funcional percebo que por vezes a complexidade das pequenas atitudes são as que valem a pena. Demorou tanto tempo para que eu percebesse que o sentimento é puro e imenso. É simples como o percurso de um rio e complexo como a sua profundidade, afinal águas calmas são profundas. E na profundidade que aprendo a conhecer por completo a simples complexidade do que existe em mim.

Aqui, ali, em qualquer lugar. Every breath you take.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Calçadas

Ao lado, do outro lado, de outro lado ainda, o vento frio batia no rosto com uma intensidade imensa, um corpo aquecendo o outro, os braços entrelaçados buscando cada gota de calor. A noite escura mostrava nas entrelinhas das nuvens o aconchego e a paz.

Um romântico tolo; é aquilo o que todos pensam, pois de bem e de mau e por mais tolo que seja o romantismo vale cada centelha. O vinho e a cerveja, o fulgor da chama do cigarro que ilumina o quarto ao ser levemente tragado e a fumaça que exala dos pulmões a cada baforada, aconchego, torna a repetir então o tolo romântico. [] Aquela suave neblina e o calor que ali se instalava, ali, sempre ali, naquele mesmo lugar naquela alcova. No seio da donzela: a volúpia que estremece ao bater do coração; no coração em brasa ardente e constante.

Presente? Passado? Futuro? Destino? ......... São reticências. [] Oxum sabe.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

[Vapor]

Digo. Pois. De qualquer forma, penso e repenso sempre as mesmas coisas, mesmo que em meio a uma total letargia nostálgica, percebo o quanto a poesia se faz presente nos mais distintos fulgores do ópio e do vinho.

Chamo atenção para esses vapores que exalam desse inóspito cômodo, exalados da minha mente que por vezes me faço insano nas suas alegorias. Não contento meu espírito com simples fragmentos de inspiração, vejo assim, que à minha mente vagam espíritos errantes e sentinelas do contento.

Esse é o fato, da constante história recontada diariamente, que traz à tona todo vapor da essência, daquilo que evapora, que todos os dias se condensa e evapora, muda e nunca torna a ser. Assim como o rio.

domingo, 23 de maio de 2010

Vênus III

Era tênue o horizonte que por um instante eu mirava, o crepúsculo que agora se finda era suave e pleno, aqueles raios de sol amarelados que invadiam a varanda me traziam um célebre ar nostálgico que tomava conta dos meus pensamentos: como eu me sentia bem.

Eu sempre me lembro do sabor daquele vinho, ah, sim, o célebre vinho que por anos molhou minha boca e infestava de amores minh’alma.

Foi uma noite, noite essa perdida no tempo e nas horas, não me lembro a data, não me lembro nada, mas nos fulgor dos acontecimentos eu lembro-me dos mais breves acontecimentos:

A lua guarnecia a cama sob os lençóis vermelhos, a temperatura era amena e as cores todas vibrantes. E debruçada sobre um travesseiro estava ela, minha Vênus. Vestida naquela camisola roxa que despertava meus mais profundos desejos. Sua sede emanava pelos seus poros e meu desejo desvencilhava-se das roupas como se um vendaval as levasse pra longe.

Toquei seus lábios suavemente, eu sentia o calor que aquele corpo emanava, toquei suas costas e num movimento suave a trouxe pra perto de mim. Senti o arrepio que nossos corpos despertaram um ao outro, o beijo se tornou mais profundo, mais ardente, as mãos percorriam cada pedaço da pele. Aos sussurros eu declamava o ardor dos desejos que me possuíam. Seus suspiros aumentavam a cada instante, nossos corpos tornavam-se apenas um e no êxtase de sensações que nos envolvia: os gemidos eram abafados pelos beijos incontroláveis que trocávamos.

A tomei em minha boca, como se sugasse pra mim todo o néctar que daquela flor pudesse ser extraído, seus quadris me sufocavam enquanto de mim ela sugava cada gota do meu desejo.

[]

Ao final, lembro-me bem dos cigarros que fumamos e das palavras trocadas. A infinidade de lembranças de uma noite sem lembranças, ou falta de lembranças de uma noite repleta delas, não sei bem dizer ao certo, mas sei que ao certo dizer: as lembranças mais importantes, eu as guardo pra mim mesmo.

domingo, 14 de março de 2010

Devaneios do passado futuro

Foi como um dia qualquer, o pó sobre os livros pairava de uma maneira descomunal, as teias de aranha nos cantos da casa pareciam pequenas cidades aracnídeas, o cheiro do mofo e da umidade infestava cada centímetro da casa. Por entre as cortinas, finos raios de sol conseguiam adentrar a imensidão daquela pequena masmorra que eu chamava de casa.

Sentei então em frente à lareira que ainda tinha um pequeno resto de brasas, olhei aquele retrato, aquela face jovem que eu jamais tornarei a ver. Os olhos cheios de vida, agora parecem cansados, os cabelos que no instante eternizado eram escuros, agora são esbranquiçados e quebradiços.

O pó que paira por todos os cantos penetra as minhas narinas a cada vez que inspiro e a água com ferrugem encharca meu rosto. Voltei a ser o mesmo do retrato, eu sei, eu sinto. Pena que não mais o espelho me mostre aquilo que sou. Mais um dia que nasceu, hora de ir dormir.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dias que seguem...

E lá sigo eu novamente em direção ao futuro. O tempo passa, o tempo passou e sempre vai passar, os dias que por vezes se arrastaram, agora parecem ser mais curtos. Arrumo as roupas na mala, organizo as coisas de maior necessidade, penso constantemente em como tudo vai ser, em como será viver sozinho.
Olho algumas fotos antigas, vejo o quanto eu cresci e como constantemente eu não percebo isso, mas chegou a hora de enfrentar a realidade, é isso.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Eu - Satã

A maior desgraça deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles. Olá, Satan!
Macário.




- Não te endoudeça o vinho a formosura. Esse vinho que lhe queima a boca não te traz juízo. Não é de hoje que o vinho leva ao longe a sanidade do homem.
- Sanidade? Há muito já não a tenho.
Creio nessa, como a experiência de simples convicção. Já que em sua forma o exílio eleva meus pensamentos, e como creio: há muito o que se aprender com a solidão, contudo de forma alguma me faço esperar de bom grado que daqui eu me saia com total felicidade. Simplesmente creio em meio às minhas conjecturas que não serei o mesmo ao ir embora.
Já percebi meu estado de catárse, pois constantemente ébrio vejo o mundo com outros olhares e com outros pesares, volto então a crer no consolo da solidão e penso no meu simples mundo facilmente criado e retoricamente confortável. Em anos vagando não me via tão próximo a mim mesmo.
Meu corpo submerso na banheira: então acendo um cigarro, vejo a fumaça indo vagarosamente de encontro ao fim, minha taça de vinho cheia, novamente ébrio à realidade. Sempre foi assim, de encontro ao âmago ébrio e solitário da minh’alma, como se defronte ao espelho eu estivesse, vejo por meus olhos cada vulto da libertina vida. Eu sei que é o fim, o mesmo fim da fumaça, agora a mim pertence.
Minha última saudade, é a daqueles amores que eu tinha com ela, aquele perfume enebriante, aquela boca fresca, sua alva pela, seu doce caminhar...
- É hora.
- Vamos. Aqui me despeço do vinho, no inferno não vou precisar dele.
Aqui jaz minha última lembrança: esse coração cravejado a sangue, que a ela pertence.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Café da madrugada.

Madrugada e meia e eu aqui contando os minutos, na verdade eu conto os segundos ansioso pelo momento da volta, não sei como vai ser, não tenho idéia do que me espera. Mais uma olhada no relógio; percebo então que o tempo não passa, os ponteiros se arrastam e a madrugada se estende.
Caminho pelo chão de madeira que emite ruídos a cada passo. Acendo a luz, abro a pequena porta do armário em busca de café e encontro simplesmente a lata vazia. O desejo é particularmente incontrolável, meu corpo e a minha mente precisam de cafeína, precisam daquele sabor e daquele aroma de café passado. Por um momento fico sem saber o que fazer.
Volto para o quarto e sento na cama, penso, brinco com o velho isqueiro. Levanto e vou até a sala, pego as chaves do carro. Afoito, sedento, entro no carro com um simples objetivo: comprar café. Reviro as ruas escuras na busca de algum lugar para comprar o café. Estaciono.
- Onde tem café, por favor?
-Logo ali na estante ao lado, senhor.
-Obrigado.
Pego o café. O precioso café, tão precioso quanto o anel do poder para o Smeagol, na verdade por um momento eu me senti o próprio ao tocar o pacote de café. Com uns trocados, pago a atenciosa moça do caixa. Entro novamente no carro e dirijo até em casa.
Abro a porta, corro até a cozinha. Pego o velho passador e aqueço a água, coloco duas colheradas de café dentro do passador, coloco a água quente. Ali está ele, a cor, o aroma, tudo em perfeita harmonia.
Sirvo minha caneca com a mesma colherada de sempre. Aquele líquido dos Deuses na minha boca de novo.
Posso dormir em paz agora.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

prosopopéia do sonho.

Sabe quando um sonho parece realidade?
Foi assim: em um lugar desconhecido, as pessoas ao meu redor pareciam distantes, pareciam como se estivessem alienadas a algo que eu por hora desconheço. Mas éramos apenas eu e ela.
Aproximamo-nos e nos beijamos, lembro daquela boca quente, como se a tivesse sentido a noite inteira, lembro da pele dela tocando a minha, como se estivesse ali a noite inteira. Eu a trouxe pra perto de mim, cada segundo era constante – mesmo sendo um sonho, cada instante parecia de total realidade. -. A cama nos convidava ao encontro dos corpos sedentos com os lençóis. Foi ali: Intenso e quente, quente como o vinho, intenso como o vento frio que sopra nas madrugadas de inverno. Minhas mãos seguravam de maneira forte aqueles cabelos. Era uma explosão sinestésica fundida ao sutil sentimento.
Acordei como se tudo tivesse sido real. O sentimento se manteve vivo como uma pequena chama, eu delicadamente a cortejei. Será que eu a encontro novamente nos sonhos?
Quiçá.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"uma bela noite"

05h42min. Momentos que precedem o nascer do sol. Eu aqui, estagnado frente a uma tela. Sei que em minutos o sol vai começar a brilhar e seus raios vão começar a invadir a escuridão do meu quarto. Nessa constante explosão sinestésica que eu passo as madrugadas, o café, a cerveja, os textos e os livros, são esses os componentes de “uma bela noite”.

E como sempre eu corro até a janela e me debruço: percebo então, que nem teus sapatos de cristal me chamaram atenção, tua pompa não foi suficiente, eu esperei mais, queria mais, via mais, e em todo o “mais”, findou-se com um “menos”. Foram apenas contos da madrugada.

Eu me lembro da moça da carruagem. Era estranha a forma como eu a via, mas ela também era apenas fruto da minha imaginação.

Quem és, bela?

06h16min. Os raios de sol começam a se exibir. A aurora se levanta em sua plenitude. Eu vou dormir.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

....madrugada [ ]

Um escrito tosco durante a madrugada, mas a madrugada inspira cores, sabores, aromas, inspirações, conversas.
O sabor da madrugada é intenso, suave. Não defino por simples justaposição de palavras o contexto abrangente da noite.
[ ]
Não é pela madrugada em si, mas os olhos foram mais brilhantes com o realce da noite.
Essa é a concepção existente dentro de mim. De uma forma baudelariana, me coloca contrário à fotografia. -

A chuva veio forte, raios e trovões, eu escrevi enquanto isso em um pedaço de papel:
Nem sempre o cólera que nos assombra revela o que verdadeiramente as pessoas são.
Nos momentos em que mais se fez necessário: tudo o que eu via e ouvia eram reclamações e caras feias. E mesmo assim eu não via atitude alguma. Teu fado não é pior do que o de outrem, no entanto na tua paranóia egoísta teimas em não querer acreditar que a solução dos problemas está logo a tua frente, e hesitas constantemente em alcançá-la.

A chuva passou e a brisa agradável se instaurou, os pensamentos ruins novamente voaram e o vento me trouxe a paz.
Pensamentos tão fragmentados como muitas coisas. Enfim. Fim. tá na hora de dormir, o domingo acabou.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Rodas, Asfalto.

In their '62 'vette
Sharing one cigarette
In a black light trance then
Go go dance
Then
Go go dance
Then
-Type o Negative


Será assim: Quando o motor ligar vai haver uma cisão de tempo e espaço. Não haverá passado. Haverá futuro. Um futuro sobre rodas que vai me levar por todos aqueles lugares antes desconhecidos.
Vou bater na porta da tua casa, dizer que faça as malas logo, pois em minutos partiremos. Vamos partir e rumar à lugar algum, pela rota 69.
Os pneus deslizam sobre o asfalto em tom de quem anda sobre plumas, não percebo o tempo passar. Nesse mundo também o tempo pouco importa. A estrada cada vez passa mais rápida, vejo a paisagem escurecendo junto ao por do sol, ouço apenas o barulho do motor. Nada mais existe.
No banco ao lado lá está ela, minha inspiração, minha Vênus. Vestiremos roupas de couro e botas sem cadarço. Fumaremos alguns cigarros, tomaremos algumas cervejas. Nas noites quentes faremos sexo no capô, em cima do poder de um V8 de 500 HP.
Seguiremos então a estrada, sem rumo, sem destino. Assim será. E o fim: nem eu sei. A morte é só uma escala até a próxima acelerada e a próxima transa no capô.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Vênus II

Que à bela Natureza o seio esmaltas,
Que no prazer de Amor ao mundo apuras
O prazer da existência.
- Du Bocage

Eu tremeria frente ao seu chicote, lançar-me-ia aos teus pés em súplicas se o açoite não me fosse assaz aprazível. O vinho que lhe queima a boca e te torna cruel. Cruel e digna do desplante do meu prazer ao tocar teu corpo. Marco as tuas pernas cruelmente com meus dentes ao passo de que com tuas unhas tiras sangue da minha pele. Devoramos-nos em um gozo eterno, um gozo contínuo que resplandece a alvorada, e cai pelo crepúsculo sangrento às portas da madrugada.
Teus gemidos abafados pela minha boca, tua pele desnuda tremendo ao meu bel prazer. Como se na fração de um segundo tornas-te minha total escrava. E eu como teu fiel soberano, descarrego nas minhas nove tiras todo o prazer que queres toda a dor que te faz gozar. Porque gozas, gozas e és minha.
Tomo-te aos meus braços, tu minha Vênus, teu corpo treme, tuas pernas abraçam meu corpo outra vez. É constante a frenética sincronia dos nossos corpos.
Teu suspiro fugaz, o doce cheiro da satisfação carnal. Desfalecemos juntos, exaustos. Deitaste então no meu peito enquanto tuas mãos me tocavam de forma carinhosa: como é doce o enfático paradoxo que nos tangencia entre a crueldade mútua com o mais doce afago que nos cerca. Endoudecidos de prazer, assim que morreremos.
O cigarro já está no fim. [ ] Eu quero mais...Contudo já me tens na boca.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Passos...

Já era tempo e eu ando com as minhas próprias pernas. Não julgo valores nem causa, contento-me com o certo e muitas vezes tenho que acatar o errado.
Passos sobre caveiras desafortunadas nesse incrível cemitério a céu aberto: e o que resta? O nada, a dor. Sempre o vinho, reconfortante vinho, que ébrio me torna. Que reconforto essa sensação me traz. Dionísio, sempre tem suas artimanhas.
Os gregos faziam suas incríveis festas e suas peças teatrais, a fim de “esquecer” melancolia, mesmo que de forma efêmera. E assim é.
Agora, eu abro o guarda-chuva e espero.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Vênus I

Num repente estávamos ali, éramos eu e ela como se nada mais existisse. Nua sob sua costumeira seda violeta, diante de mim como total soberana dos meus desejos.
Aproximava-me suavemente de toda aquela beleza, tocava seus quadris: beijei então seus lábios, aquela boca quente que despertava no meu íntimo os mais funestos desejos, sua pele branca reluzindo a pouca luz que nos iluminava. Minhas mãos percorriam seu corpo agora nu, eu tocava sua pele como um esfomeado, era ela, minha Vênus entregue aos meus desejos. O calor que exalava do seu corpo atormentava toda a minha existência, tomei-a nos braços e a reclinei sobre o leito aveludado, minhas hábeis mãos tocando sua flor dos desejos, seus suspiros, aquele impulso desenfreado. Minha boca percorria seu corpo, eu a abocanhava me deliciando com seu delicado sabor, eu a sugava, um turbilhão de sabores tomava conta da minha boca. Viramos em um delicioso 69. [ ]
Eu a tomava pra mim naquele frenético e suave movimento. Possuía seu corpo, adentrava seu íntimo lhe arrancando constantes suspiros, seus gemidos no meu ouvido e suas unhas arranhando minha pele. Sentia suas pernas enlaçadas em mim, constante força avassaladora que nos tomava, extasiados, frenéticos, incansáveis, éramos apenas um. Nossos corpos copulavam na mais profunda sincronia. Eu era engolido constantemente, sentia como se algo supremo me puxasse pra dentro dela.
Virávamos constantemente, eu sentia suas pernas abraçando meus quadris enquanto suas mãos forçavam meu tronco para junto da cama, me sufocando com seu gozo extasiado. Ofegante e incansáveis tomamos a noite como nossa, nosso santuário do amor cheirava a sexo, nossa pele exalava sexo. A tomei de bruços deitava no colchão sodomizando aquele corpo perfumado, novamente ela me engolia. Meus movimentos eram cadenciados, fortes. Endoudecidos: o gozo veio estonteante, ambos ali: eu debruçado sob seu corpo que ainda latejava.
Deitados. Ela com a cabeça sob meu peito. Refletíamos para nós mesmos cada minuto.
Ao final de tudo, acendemos um cigarro e a cada tragada crescia a vontade de recomeçar tudo.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Estrada, ponte. Rio.

“Sim, repito. sou como um viajante da vida que de repente se encontre numa vila estranha sem saber como ali chegou; e ocorrem-me esses casos dos que se perdem a memória, e são outros durante muito tempo. Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e a consciência -, e acordo agora no meio da ponte, debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais firmemente do que fui até aqui. (...) Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício, inteligente e natural"

Não condizem ao pensamento errante de um simples poeta amargurado as razões da vida que encontra. Não de fatos e fados são feitos os meus versos, mas na candura que eu encontro meu espelho, trago em mente a imagem ébria dos meus sonhos, do profundo âmago solitário das noites febris que nossos corpos se encontravam, condiz ao termo que a força é espantosa deste rio desventurado.
Componho em estrofes cada breve pensamento, cada sentimento aqui velado, debruço-me sobre minha própria imagem e reflito: que nas noites que pela rua eu caminhava sentindo os passos e o vento, observara as folhas caindo sobre a terra molhada, meus pensamentos perdiam-se em meio a devaneios prolixos, minha razão se perdia em meio à tempestade que se formava dentro de mim mesmo e, sob perspectiva alguma eu mantinha controle sobre tudo aquilo, findava-se ali toda e qualquer existência sentimental, éramos apenas eu e o caminho, eu e a natureza, eu e meu mundo..Doce mundo construído sob os pilares dos meus anseios, doce poesia cruel a da realidade que o põe por terra a cada instante que abro os meus olhos e me deparo com toda essa imensidão da vida, com esse cenário doentio.
Continuo minha breve jornada que a cada passo me mostra um mundo diferente, ou senão, apenas me mostra as pegadas que deixei na terra molhada, pegadas em direção a ponte, pegadas em direção a mim. Por hora sinto meu coração extasiado pelo assombro da breve razão.
Deparo-me então, por um instante, comigo mesmo, meu reflexo estampado na água, ali próximo de mim, apenas eu e eu mesmo, o rio continua correndo e eu permaneço ali, estagnado no assombro da escuridão perplexo pela visão do meu reflexo, donde vem tamanha expressividade? Num repente me vejo novamente debruçado sob a guarda da ponte no, na plena escuridão da noite, mil pensamentos invadem minha mente, mas de todos eles, apenas o silêncio que me envolve, de toda a expressividade que por instantes eu vi na água, simplesmente desaparecem como a fumaça some no ar.
Novamente respiro, meu corpo se inunda com o ar fresco da noite e minhas idéias já tornam a fluir, naquela garrafa de vinho eu vi minha poesia, os goles que me queimavam os lábios traziam consigo a inspiração que minh’alma tanto necessita, mas seria peripécia de Mefistófeles eu crer que posso entender toda essa essência sob o aspecto do eterno: difundido entre os meus mais vis pensamentos, dentre meus mais sádicos desejos e entre os meus mais voluptuosos desejos? Creio não ser aquele que cria, mas sim aquele que destrói conceitos pré-definidos, pois vivo cada momento, cada instante, não como se fosse o último, mas sim como o anterior ao próximo. Pela estrada eu continuo andando ao mesmo tempo em que na guarda da ponte continuo debruçado, pela estrada passo a vida andando e na ponte vejo a vida passando.
E o rio? Continua correndo desventurado, sem limites e sem rumo, nunca sendo o mesmo, assim como eu.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Corpo, Chuva e Pensamento

Devido à continuidade de ações mal ordenadas, concluo mais uma vez que o fator humano sempre corresponde a um atraso no desenvolvimento de ações. Os mesmos erros tornam a repetir-se e nada é feito para corrigi-los, não julgo sob uma perspectiva externa tais fatores, contudo não me calo frente a tantas conjecturas repletas de falhas abusivas.
Num repente tudo muda, raios e trovões rompem os céus, não pela primeira vez eu percebo a proximidade de uma incrível tempestade, porém prevejo no clarão dos relâmpagos abrangentes histórias convertidas em pseudônimos, vejo também a relevância natural de fatos e acontecimentos efêmeros. Na posição de observador debruçado na janela, analiso cada decorrência do vento e da chuva, seja ela tênue, seja ela extrema, tangencio por vez a congruência estabelecida entre vento e trovão, entre relâmpago e chuva: admiro a força da natureza sobre a vida humana e encantado percebo o pleno poder dela sobre nós mortais.
Como fere tanta água, que tamanho poder destrutivo possui tal fenômeno a ponto de em poucas horas ruir o levou anos para alcançar sua plenitude, tão indignos somos desse topo de cadeia alimentar, tão ínfimos nós humanos somos, mas a crítica não se encontra na falta de poder, mas sim no excesso, como grandes pensadores já afirmaram “o que um homem com muito poder quer? Mais poder.”.
De volta ao devaneio desenfreado frente à tempestade, torno-me um simples admirador como outrora havia sido, sinto os respingos em mim adentrado a janela, molhando o chão da casa, aquelas simples gotas geladas fundidas ao vento caindo no chão, tão precisas como os mais perfeitos acordes do Led Zeppelin, meu pensamento fluía cada vez mais longínquo: eu sentia a plenitude da natureza enquanto lembrava fatos tão precisos e irrelevantes. Como momentos felizes são breves e como o costume leva ao afastamento, como a convivência prolongada torna as pessoas distantes, como a chuva demora a passar. Como a chuva demora a passar, há tempo ouço o barulho estridente dos trovões, a janela já está fechada, pois o vento invade a casa e com ele traz a chuva. Tanta ênfase à chuva, a chuva que aqui me é assaz aprazível, para outros não é tão boa assim, como esse constante paradoxo desencadeia pensamentos.
Pensando na delicadeza que é toda essa constante chamada, vida, enalteço sempre a beleza e a alegria das pequenas coisas, de forma básica, explica-se que ninguém veio ao mundo a fim de atingir total felicidade, viemos ter momentos de felicidade por isso tais momentos devem ser aproveitados ao máximo. O cheiro do café passando, o cheiro do pão torrando, aquele aroma da manteiga derretendo no pão torrado, para um dia chuvoso como esse não existe combinação melhor, contudo, os pensamentos não se afastam, aquelas velhas reflexões e velhas memórias que ousam adentrar meus pensamentos persistem em ali se acomodar.
Pensei no meu constante julgamento de certo e errado e das minhas plenas constatações sobre atitudes próximas a mim, que trazem toda essa tempestade exterior pra dentro de mim, confundindo minha mente e rebuscando minhas decisões racionais, contudo não vejo meio óbvio de apenas aceitar como se simplesmente “o melhor que a vida pode me proporcionar” como diria Voltaire em seu livro Cândido e o otimismo, não vejo melhoras e não vejo necessidade de tais erros, foi a tentativa de recomeçar, e por que recomeçar com os mesmos erros? Aquelas velhas atitudes desobedientes e sem requinte visionário, sentar e esperar com que a chuva lhe traga as boas notícias nunca funcionou. Vejo freqüentemente o quando podemos estar enganados frente a qualquer perspectiva infundada, todavia, doravante diante de tais idéias que a chuva me trouxe, revejo perspectivas e sei que de alguma forma isso não é mau sinal, “impor a dúvida até o limite” (DESCARTES, 1637). A chuva sempre impõe a dúvida até o limite, então, as estruturas cedem, as composições oblíquas caem por terra e o que nos resta? A verdade, porém, infelizmente sempre o que resta é pouco, pois poucas são as verdades que nossos olhos são capazes de enxergar, já que a vida não é possível frente à realidade.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tolkien e a Vida [minha vida].

É tão estranho quando sabidamente tomamos decisões idiotas, chego às vezes a crer que tenho sérios problemas mentais, deveras, não descarto tal possibilidade nem nunca vou descartar. O exílio me proporciona momentos maravilhosos, insights incríveis, chego até a crer que isso aqui de alguma forma me faz bem, mas sei que de uma forma geral não me faz tão bem assim. Acredito que não chego a conclusões vis e sem conteúdo, aprendi algumas coisas nesse lugar e sei como tenho muitas outras pra aprender: aprendi a lidar com determinados comportamentos, vejo que é como um cenário com necessidade de adaptação, pensei de início que seria o pior tormento da minha vida, mas hoje a noite enquanto eu assistia "Titanic" reparei que nem tudo estava afundado e que a maioria das coisas está aqui, bem na minha frente. Eu escrevo a fim de chegar a algum lugar, procuro nas expressões formas muitas vezes equivocadas de literatura, mas no final em sempre percebo o quanto tenho aprendido. Talvez esse isoladamente de certa me traga algo bom, e eu não falo isso como um desabafo ou algo do gênero, eu falo como uma necessidade de ampliação geral de perspectivas. Em suma: Sim, aos que não me conhecem pode ser incoerente, mas ao reler O Hobbit pela 14ª vez eu percebi como o Senhor Bilbo mudou, deixou de ser o simples Hobbit acomodado, passando a ser um caçador de tesouros e vejo através dessa perspectiva que o Tolkien mais uma vez acertou ao enaltecer toda a exorbitância que existe para além do Condado: Tomemos o condado como aquele mundinho que criamos acerca de nós mesmos, logo após percebemos que é assustador ir para longe desse mundinho, enfrentamos dificuldades, enfrentamos muitas coisas das quais nunca imaginamos que enfrentaríamos, porém ao final da aventura quando voltamos pra casa, trazendo conosco muito mais do que ganhos, trazemos vivência. Afinal, devemos enfrentar o dragão da vida, afinal, considerar que a vida é um dragão tipo o Smaug, é uma metáfora um tanto quanto peculiar, mesmo através de uma perspectiva contemporânea. Em seguida, temos a criação da "sociedade do anel" com o único intuíto de levar o anel até Mordor para que o mesmo seja destruído. A sociedade do anel cai. Tudo cai, tudo desmorona, mas não foi por o eixo principal ter sido ruído que tudo também ruiu. Mais uma vez o tio Tolkien nos ensina que nas maiores adversidades podemos encontrar um verdadeiro ponto de apoio e um verdadeiro impulso, mesmo que toda a força maligna que carregamos lute contra todo e qualquer sucesso no alcance das metas pessoais e muitas vezes as adversidades crescem dentro de nós mesmos, através de um simples anel metaforizando nossos pensamentos negativos. E que nem sempre desistir vale a pena. Divagações noturnas sobre o universo Tolkiniano e o nosso universo.