domingo, 31 de janeiro de 2010

Passos...

Já era tempo e eu ando com as minhas próprias pernas. Não julgo valores nem causa, contento-me com o certo e muitas vezes tenho que acatar o errado.
Passos sobre caveiras desafortunadas nesse incrível cemitério a céu aberto: e o que resta? O nada, a dor. Sempre o vinho, reconfortante vinho, que ébrio me torna. Que reconforto essa sensação me traz. Dionísio, sempre tem suas artimanhas.
Os gregos faziam suas incríveis festas e suas peças teatrais, a fim de “esquecer” melancolia, mesmo que de forma efêmera. E assim é.
Agora, eu abro o guarda-chuva e espero.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Vênus I

Num repente estávamos ali, éramos eu e ela como se nada mais existisse. Nua sob sua costumeira seda violeta, diante de mim como total soberana dos meus desejos.
Aproximava-me suavemente de toda aquela beleza, tocava seus quadris: beijei então seus lábios, aquela boca quente que despertava no meu íntimo os mais funestos desejos, sua pele branca reluzindo a pouca luz que nos iluminava. Minhas mãos percorriam seu corpo agora nu, eu tocava sua pele como um esfomeado, era ela, minha Vênus entregue aos meus desejos. O calor que exalava do seu corpo atormentava toda a minha existência, tomei-a nos braços e a reclinei sobre o leito aveludado, minhas hábeis mãos tocando sua flor dos desejos, seus suspiros, aquele impulso desenfreado. Minha boca percorria seu corpo, eu a abocanhava me deliciando com seu delicado sabor, eu a sugava, um turbilhão de sabores tomava conta da minha boca. Viramos em um delicioso 69. [ ]
Eu a tomava pra mim naquele frenético e suave movimento. Possuía seu corpo, adentrava seu íntimo lhe arrancando constantes suspiros, seus gemidos no meu ouvido e suas unhas arranhando minha pele. Sentia suas pernas enlaçadas em mim, constante força avassaladora que nos tomava, extasiados, frenéticos, incansáveis, éramos apenas um. Nossos corpos copulavam na mais profunda sincronia. Eu era engolido constantemente, sentia como se algo supremo me puxasse pra dentro dela.
Virávamos constantemente, eu sentia suas pernas abraçando meus quadris enquanto suas mãos forçavam meu tronco para junto da cama, me sufocando com seu gozo extasiado. Ofegante e incansáveis tomamos a noite como nossa, nosso santuário do amor cheirava a sexo, nossa pele exalava sexo. A tomei de bruços deitava no colchão sodomizando aquele corpo perfumado, novamente ela me engolia. Meus movimentos eram cadenciados, fortes. Endoudecidos: o gozo veio estonteante, ambos ali: eu debruçado sob seu corpo que ainda latejava.
Deitados. Ela com a cabeça sob meu peito. Refletíamos para nós mesmos cada minuto.
Ao final de tudo, acendemos um cigarro e a cada tragada crescia a vontade de recomeçar tudo.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Estrada, ponte. Rio.

“Sim, repito. sou como um viajante da vida que de repente se encontre numa vila estranha sem saber como ali chegou; e ocorrem-me esses casos dos que se perdem a memória, e são outros durante muito tempo. Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e a consciência -, e acordo agora no meio da ponte, debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais firmemente do que fui até aqui. (...) Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício, inteligente e natural"

Não condizem ao pensamento errante de um simples poeta amargurado as razões da vida que encontra. Não de fatos e fados são feitos os meus versos, mas na candura que eu encontro meu espelho, trago em mente a imagem ébria dos meus sonhos, do profundo âmago solitário das noites febris que nossos corpos se encontravam, condiz ao termo que a força é espantosa deste rio desventurado.
Componho em estrofes cada breve pensamento, cada sentimento aqui velado, debruço-me sobre minha própria imagem e reflito: que nas noites que pela rua eu caminhava sentindo os passos e o vento, observara as folhas caindo sobre a terra molhada, meus pensamentos perdiam-se em meio a devaneios prolixos, minha razão se perdia em meio à tempestade que se formava dentro de mim mesmo e, sob perspectiva alguma eu mantinha controle sobre tudo aquilo, findava-se ali toda e qualquer existência sentimental, éramos apenas eu e o caminho, eu e a natureza, eu e meu mundo..Doce mundo construído sob os pilares dos meus anseios, doce poesia cruel a da realidade que o põe por terra a cada instante que abro os meus olhos e me deparo com toda essa imensidão da vida, com esse cenário doentio.
Continuo minha breve jornada que a cada passo me mostra um mundo diferente, ou senão, apenas me mostra as pegadas que deixei na terra molhada, pegadas em direção a ponte, pegadas em direção a mim. Por hora sinto meu coração extasiado pelo assombro da breve razão.
Deparo-me então, por um instante, comigo mesmo, meu reflexo estampado na água, ali próximo de mim, apenas eu e eu mesmo, o rio continua correndo e eu permaneço ali, estagnado no assombro da escuridão perplexo pela visão do meu reflexo, donde vem tamanha expressividade? Num repente me vejo novamente debruçado sob a guarda da ponte no, na plena escuridão da noite, mil pensamentos invadem minha mente, mas de todos eles, apenas o silêncio que me envolve, de toda a expressividade que por instantes eu vi na água, simplesmente desaparecem como a fumaça some no ar.
Novamente respiro, meu corpo se inunda com o ar fresco da noite e minhas idéias já tornam a fluir, naquela garrafa de vinho eu vi minha poesia, os goles que me queimavam os lábios traziam consigo a inspiração que minh’alma tanto necessita, mas seria peripécia de Mefistófeles eu crer que posso entender toda essa essência sob o aspecto do eterno: difundido entre os meus mais vis pensamentos, dentre meus mais sádicos desejos e entre os meus mais voluptuosos desejos? Creio não ser aquele que cria, mas sim aquele que destrói conceitos pré-definidos, pois vivo cada momento, cada instante, não como se fosse o último, mas sim como o anterior ao próximo. Pela estrada eu continuo andando ao mesmo tempo em que na guarda da ponte continuo debruçado, pela estrada passo a vida andando e na ponte vejo a vida passando.
E o rio? Continua correndo desventurado, sem limites e sem rumo, nunca sendo o mesmo, assim como eu.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Corpo, Chuva e Pensamento

Devido à continuidade de ações mal ordenadas, concluo mais uma vez que o fator humano sempre corresponde a um atraso no desenvolvimento de ações. Os mesmos erros tornam a repetir-se e nada é feito para corrigi-los, não julgo sob uma perspectiva externa tais fatores, contudo não me calo frente a tantas conjecturas repletas de falhas abusivas.
Num repente tudo muda, raios e trovões rompem os céus, não pela primeira vez eu percebo a proximidade de uma incrível tempestade, porém prevejo no clarão dos relâmpagos abrangentes histórias convertidas em pseudônimos, vejo também a relevância natural de fatos e acontecimentos efêmeros. Na posição de observador debruçado na janela, analiso cada decorrência do vento e da chuva, seja ela tênue, seja ela extrema, tangencio por vez a congruência estabelecida entre vento e trovão, entre relâmpago e chuva: admiro a força da natureza sobre a vida humana e encantado percebo o pleno poder dela sobre nós mortais.
Como fere tanta água, que tamanho poder destrutivo possui tal fenômeno a ponto de em poucas horas ruir o levou anos para alcançar sua plenitude, tão indignos somos desse topo de cadeia alimentar, tão ínfimos nós humanos somos, mas a crítica não se encontra na falta de poder, mas sim no excesso, como grandes pensadores já afirmaram “o que um homem com muito poder quer? Mais poder.”.
De volta ao devaneio desenfreado frente à tempestade, torno-me um simples admirador como outrora havia sido, sinto os respingos em mim adentrado a janela, molhando o chão da casa, aquelas simples gotas geladas fundidas ao vento caindo no chão, tão precisas como os mais perfeitos acordes do Led Zeppelin, meu pensamento fluía cada vez mais longínquo: eu sentia a plenitude da natureza enquanto lembrava fatos tão precisos e irrelevantes. Como momentos felizes são breves e como o costume leva ao afastamento, como a convivência prolongada torna as pessoas distantes, como a chuva demora a passar. Como a chuva demora a passar, há tempo ouço o barulho estridente dos trovões, a janela já está fechada, pois o vento invade a casa e com ele traz a chuva. Tanta ênfase à chuva, a chuva que aqui me é assaz aprazível, para outros não é tão boa assim, como esse constante paradoxo desencadeia pensamentos.
Pensando na delicadeza que é toda essa constante chamada, vida, enalteço sempre a beleza e a alegria das pequenas coisas, de forma básica, explica-se que ninguém veio ao mundo a fim de atingir total felicidade, viemos ter momentos de felicidade por isso tais momentos devem ser aproveitados ao máximo. O cheiro do café passando, o cheiro do pão torrando, aquele aroma da manteiga derretendo no pão torrado, para um dia chuvoso como esse não existe combinação melhor, contudo, os pensamentos não se afastam, aquelas velhas reflexões e velhas memórias que ousam adentrar meus pensamentos persistem em ali se acomodar.
Pensei no meu constante julgamento de certo e errado e das minhas plenas constatações sobre atitudes próximas a mim, que trazem toda essa tempestade exterior pra dentro de mim, confundindo minha mente e rebuscando minhas decisões racionais, contudo não vejo meio óbvio de apenas aceitar como se simplesmente “o melhor que a vida pode me proporcionar” como diria Voltaire em seu livro Cândido e o otimismo, não vejo melhoras e não vejo necessidade de tais erros, foi a tentativa de recomeçar, e por que recomeçar com os mesmos erros? Aquelas velhas atitudes desobedientes e sem requinte visionário, sentar e esperar com que a chuva lhe traga as boas notícias nunca funcionou. Vejo freqüentemente o quando podemos estar enganados frente a qualquer perspectiva infundada, todavia, doravante diante de tais idéias que a chuva me trouxe, revejo perspectivas e sei que de alguma forma isso não é mau sinal, “impor a dúvida até o limite” (DESCARTES, 1637). A chuva sempre impõe a dúvida até o limite, então, as estruturas cedem, as composições oblíquas caem por terra e o que nos resta? A verdade, porém, infelizmente sempre o que resta é pouco, pois poucas são as verdades que nossos olhos são capazes de enxergar, já que a vida não é possível frente à realidade.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tolkien e a Vida [minha vida].

É tão estranho quando sabidamente tomamos decisões idiotas, chego às vezes a crer que tenho sérios problemas mentais, deveras, não descarto tal possibilidade nem nunca vou descartar. O exílio me proporciona momentos maravilhosos, insights incríveis, chego até a crer que isso aqui de alguma forma me faz bem, mas sei que de uma forma geral não me faz tão bem assim. Acredito que não chego a conclusões vis e sem conteúdo, aprendi algumas coisas nesse lugar e sei como tenho muitas outras pra aprender: aprendi a lidar com determinados comportamentos, vejo que é como um cenário com necessidade de adaptação, pensei de início que seria o pior tormento da minha vida, mas hoje a noite enquanto eu assistia "Titanic" reparei que nem tudo estava afundado e que a maioria das coisas está aqui, bem na minha frente. Eu escrevo a fim de chegar a algum lugar, procuro nas expressões formas muitas vezes equivocadas de literatura, mas no final em sempre percebo o quanto tenho aprendido. Talvez esse isoladamente de certa me traga algo bom, e eu não falo isso como um desabafo ou algo do gênero, eu falo como uma necessidade de ampliação geral de perspectivas. Em suma: Sim, aos que não me conhecem pode ser incoerente, mas ao reler O Hobbit pela 14ª vez eu percebi como o Senhor Bilbo mudou, deixou de ser o simples Hobbit acomodado, passando a ser um caçador de tesouros e vejo através dessa perspectiva que o Tolkien mais uma vez acertou ao enaltecer toda a exorbitância que existe para além do Condado: Tomemos o condado como aquele mundinho que criamos acerca de nós mesmos, logo após percebemos que é assustador ir para longe desse mundinho, enfrentamos dificuldades, enfrentamos muitas coisas das quais nunca imaginamos que enfrentaríamos, porém ao final da aventura quando voltamos pra casa, trazendo conosco muito mais do que ganhos, trazemos vivência. Afinal, devemos enfrentar o dragão da vida, afinal, considerar que a vida é um dragão tipo o Smaug, é uma metáfora um tanto quanto peculiar, mesmo através de uma perspectiva contemporânea. Em seguida, temos a criação da "sociedade do anel" com o único intuíto de levar o anel até Mordor para que o mesmo seja destruído. A sociedade do anel cai. Tudo cai, tudo desmorona, mas não foi por o eixo principal ter sido ruído que tudo também ruiu. Mais uma vez o tio Tolkien nos ensina que nas maiores adversidades podemos encontrar um verdadeiro ponto de apoio e um verdadeiro impulso, mesmo que toda a força maligna que carregamos lute contra todo e qualquer sucesso no alcance das metas pessoais e muitas vezes as adversidades crescem dentro de nós mesmos, através de um simples anel metaforizando nossos pensamentos negativos. E que nem sempre desistir vale a pena. Divagações noturnas sobre o universo Tolkiniano e o nosso universo.