segunda-feira, 24 de maio de 2010

[Vapor]

Digo. Pois. De qualquer forma, penso e repenso sempre as mesmas coisas, mesmo que em meio a uma total letargia nostálgica, percebo o quanto a poesia se faz presente nos mais distintos fulgores do ópio e do vinho.

Chamo atenção para esses vapores que exalam desse inóspito cômodo, exalados da minha mente que por vezes me faço insano nas suas alegorias. Não contento meu espírito com simples fragmentos de inspiração, vejo assim, que à minha mente vagam espíritos errantes e sentinelas do contento.

Esse é o fato, da constante história recontada diariamente, que traz à tona todo vapor da essência, daquilo que evapora, que todos os dias se condensa e evapora, muda e nunca torna a ser. Assim como o rio.

domingo, 23 de maio de 2010

Vênus III

Era tênue o horizonte que por um instante eu mirava, o crepúsculo que agora se finda era suave e pleno, aqueles raios de sol amarelados que invadiam a varanda me traziam um célebre ar nostálgico que tomava conta dos meus pensamentos: como eu me sentia bem.

Eu sempre me lembro do sabor daquele vinho, ah, sim, o célebre vinho que por anos molhou minha boca e infestava de amores minh’alma.

Foi uma noite, noite essa perdida no tempo e nas horas, não me lembro a data, não me lembro nada, mas nos fulgor dos acontecimentos eu lembro-me dos mais breves acontecimentos:

A lua guarnecia a cama sob os lençóis vermelhos, a temperatura era amena e as cores todas vibrantes. E debruçada sobre um travesseiro estava ela, minha Vênus. Vestida naquela camisola roxa que despertava meus mais profundos desejos. Sua sede emanava pelos seus poros e meu desejo desvencilhava-se das roupas como se um vendaval as levasse pra longe.

Toquei seus lábios suavemente, eu sentia o calor que aquele corpo emanava, toquei suas costas e num movimento suave a trouxe pra perto de mim. Senti o arrepio que nossos corpos despertaram um ao outro, o beijo se tornou mais profundo, mais ardente, as mãos percorriam cada pedaço da pele. Aos sussurros eu declamava o ardor dos desejos que me possuíam. Seus suspiros aumentavam a cada instante, nossos corpos tornavam-se apenas um e no êxtase de sensações que nos envolvia: os gemidos eram abafados pelos beijos incontroláveis que trocávamos.

A tomei em minha boca, como se sugasse pra mim todo o néctar que daquela flor pudesse ser extraído, seus quadris me sufocavam enquanto de mim ela sugava cada gota do meu desejo.

[]

Ao final, lembro-me bem dos cigarros que fumamos e das palavras trocadas. A infinidade de lembranças de uma noite sem lembranças, ou falta de lembranças de uma noite repleta delas, não sei bem dizer ao certo, mas sei que ao certo dizer: as lembranças mais importantes, eu as guardo pra mim mesmo.