domingo, 11 de dezembro de 2011

Outro dia. Outra hora. Outra Aurora.


Divergentes feitos que outrora avisam o prelúdio do nada. Os satisfeitos simplesmente se deleitam aos prazeres do pedaço de carne sangrando sobre o prato. Os adúlteros se embriagam em luxúria. Os afoitos simplesmente esquecem todos os rituais e se encontram, agora, despidos frente ao nada.
Adentrando o recinto; nada além de informações equivocadas, apenas um amontoado de papéis há muito deixados de lado. Uma sala sombria, uma mesa alocada exatamente no centro. Poeira e teias de aranha adornam as paredes e remetem a outro mundo. Alívio. Talvez esse lugar seja o lar de todas as angústias, todas trancafiadas em uma sala empoeirada e repleta de bolor.
Um velho pedaço de papel desdobrado em vidas. Da janela é possível avistar as montanhas e um lago mais ao fundo. Na verdade, toda a visão é ambígua e cinzenta, a única sensação é a de estar imerso em um líquido cinzento e viscoso – assim como o sangue. O crepúsculo encena mais uma vez seu espetáculo sinestético, o frio apenas se apodera do que lhe é seu por direito. Toda a sensação é, em devaneios, translocada e brevemente pausada, a visão é pálida e o corpo irreconhecível.
A grande impossibilidade de todas as possibilidades se refaz dentro de uma gaveta trancada, não se sabe ao certo nada de materialmente existencial, porém a chave presa ao pescoço abrevia a curiosidade. Lentamente a gaveta é aberta.
O céu já encontra-se dividido entre o claro e o escuro, o sol esconde-se nas montanhas e a lua empalidece o retrato. O móvel velho agora é iluminado por um velho candelabro, agora aceso. Seria impossível perceber cada detalhe presente na pequena sala. Ao cair da noite o cheiro de jasmin expande todos os seus limites, a visão cinzenta de outrora torna-se límpida e clara. Jaz, então, a paz.
Seria presunção em demasia afirmar o poder acalentador do luar e da noite, entretanto os braços da noite são plenamente capazes de satisfazer qualquer dor. Entregar-se aos braços d’uma bela dama, praticar o cortejo e empalidecer ao som estridente dos gemidos e aceitar a dor de braços abertos, como uma velha amiga.
Com os olhos atônitos à gaveta, apenas um envelope volumoso e um tinteiro. As páginas vazias e amareladas pelo tempo. O cenário é insólito à noite. As páginas brancas abreviam a esperança, mas carecem de escritura. Certamente o escrito pertinente encontra-se lido e o tempo encontra-se deslocado.
Amanhece o dia e tudo torna-se, novamente, nefasto, não há mais espaço para o conforto, apenas o êxtase de, algum dia, ter sido parte da história do lugar cujo retorno não há.

domingo, 18 de setembro de 2011

Espaço - Eu


Na imensidão que se faz sempre presente a total ausência. Nas luzes do crepúsculo meu pensamento divaga por distâncias imensuráveis.
Eu que sempre pensei no simples e funcional percebo,pois, por vezes a complexidade das pequenas atitudes são as de maior valia. Demorou tanto tempo para eu perceber a pureza dos sentimentos. É simples como o percurso de um rio e complexo como a sua profundidade, afinal, águas calmas são profundas. E na profundidade que aprendo a conhecer por completo a simples complexidade do que existe em mim.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Às margens de um reflexo

Paz resultante de adventos diabólicos que outrora repousavam pacificamente ante a mesa de centro, ao lado das recordações. Repousei a pena e desfaleci sobre uma velha poltrona. Acendi um cigarro. Traguei. Pensei.

Recordo-me de tempos advindos de um plano simulado, um universo que outrem insistem em julgar como verdadeiro e absoluto, porém, de caráter meramente ludibriador. Retornei aos meus pensamentos que, entre uma divagação e outra, tornavam-se elípticos, anafóricos; sentia-me preso à uma redoma de vidro e caminhando sobre o chão repleto de medos.

O caminho – ou como alguns chamam: destino – reserva suas maiores belezas para momentos onde os efeitos providos da catarse possam resplandecer em sua aurora divina e manifestar-se sobre melancólicos corações púrpuros. Resplandeceu na aurora, sob a forma de um pequeno ser, um anjo que, sob minha atmosfera nostálgica, soube despertar o desabrochar das flores e os encantamentos dos mais belos jardins.

Interrogações são sempre pertinentes, mas existe algo de mais puro e encantador à face de um pequeno anjo que repousa sobre as nuvens da tempestade?

Infelizmente, meus pensamentos não passam de divagações meramente organizadas em níveis narrativos repletos de núcleos e catálises. Como um veneno a espalhar-se pela corrente sangüínea, são apenas sonhos que embriagam minh’alma e semeiam as turvas sementes da esperança. Malícia, esta, a que provém as sementes sem a certeza da colheita; antes eu semeasse ventos em prol da colheita da tempestade, entretanto, ventos tortuosos compõem o motivo da minha deriva.

Outrora, em um divã, recostava-me ao relento a fim de apenas refletir sobre a ousadia (in)ousada de toda a figura poética compreendida entre meus funestos pensamentos, a pena e o tinteiro: percebi, então, a extrema proximidade entre o “eu” e o “eu-autor”, mas o autor está morto, já diria Barthes, sim, no discurso o autor não passa daquele que assina; por isso, mais uma vez penso, quem sou eu a escrever? Quem é o eu que escreve? Apenas a linguagem me dominando e fazendo-se escritura?

Sobreponho minha imagem sobre uma antiga foto, reparo em todas as mudanças, percebo apenas a existência do único traço em comum a tudo, uma singela pena, um pequeno tinteiro. Escritura, minha pessoal escritura da diferença, e não que a ordem do discurso venha a alterar quaisquer intertextos por mim traçados, mas debruço-me sobre pequenas observações e percebo que a lua, povoada por ovos, apenas espreita-me com um olhar significativo e ressoa em suas melodiosas palavras:

- Não penses, tu, que meus olhos não te enxergam, não esqueças, cá estou eu.

E minha significativa olhada apenas representa tudo o que sou; apenas mãos que escrevem, dominado pela mentalidade e pela linguagem, eu apenas cedo às doces tentações das palavras e as coisas.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Divagação de uma madrugada fria I

Não de fato, mas de alguma forma o sensível é tão tênue. De alguma forma tudo se completa e se faz mais real.

Outra vez eu acreditei que poderia ser uma coisa, mas na verdade percebi não ser nada do que era, percebi que quanto mais próximo do imaginado é; mais longe da realidade se encontra. Esse é o ponto em debate, não um debate aberto, mas um debate comigo mesmo. Mais uma divagação desentranhada do fundo da alma e repousada sobre o papel.

Em outros tempos me seria crível a simples necessidade, porém a resultante de todas as minhas tentativas de significação parecem centros isentos de verdade. Seria apenas uma discussão Derridiana, mas o meu centro está em jogo e está em tensão. Meu sistema não funciona com a mesma tensionalidade dos outros que estão à minha volta, muitas coisas são tão sensíveis, e de novo retomo o ponto aonde afirmo que esse sensível é tão tênue, e eu sinto falta das estruturas perfeitamente formadas ao meu redor.

Não é o mesmo divã de outrora, mas me encontro recostado sobre.

Não sei explicar a dimensão da tristeza, não sei definir de que forma ela se manifesta, apenas sinto o vazio que se encontra presente. Eu fui até os últimos minutos, carreguei o peso da insustentável leveza do ser. Lágrimas não me vertiam, pois, eu beirava o choque. Defronte à realidade estou eu, cá. Percebo agora que tudo o que resta é a presença da ausência eterna, por menor que fosse o convívio, eu sabia que estavas lá, eu sabia o quão importante foi o teu papel na minha formação. Na verdade eu perdi muito mais do que um Tio, perdi alguém que, realmente, tem feito e fará mais falta ainda.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Foco

Meu tempo é curto e minhas palavras também, simplesmente as jogo sobre o papel, sem nexo; nem coesão. Desfaço-me das roupas e repouso meu olhar sobre as formas do teu corpo. Perco o foco quando meus olhos pairam sobre tua volúpia. Meus escritos não são narrativas suficientemente descritivas e meus versos perdem a quebra do tempo quando me deparo com o teu olhar. Me fazes delirar ao som obscuro do badalar dos sinos do inferno, traduzidos em suspiros desvairados. Teus cabelos louros reluzem à luz da lua enquanto teu sexo me inebria com toque do néctar nos meus lábios. Imergimos nossa libido nas mais depravadas fantasias e viajamos pela estrada da luxúria.

O gozo é como o fulgor da ponta do cigarro; que logo se apaga. Para, em breve tornar a queimar.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Persona Dramática - Eu e Eu mesmo.

Penso muito na terceira pessoa. Meus pensamentos fluem de forma louvável de tal forma, mas essa é a hora em que eu me dirijo a mim mesmo, como em frente a um espelho. Existe a música, existem sons me cercando. Agora eu penso em mim, de forma específica, vivo para mim, desejo o melhor para mim, não penso em nada e penso em tudo, como um filme que percorre minha mente. Meu momento egocêntrico.

Sentado em frente ao teclado, o cigarro nos lábios e os pensamentos formigando na ponta dos dedos. Existe um amplo conceito ao redor de tudo, todos possuem suas conjecturas e nem sempre elas são compatíveis com as minhas, meu destino figura-se na imagem de um vivente sentado no divã e vomitando intermitentemente os seus doentios devaneios; essa foi a forma como conduzi milhares de pensamentos, assim guiei minhas máscaras a tornarem-se aquilo que sempre quis apresentar. Hoje caem as máscaras, hoje toda a fantasia cai por. Eu sou Eu.

A panacéia cumpriu seu papel, estou sentado em um santuário de papel e repouso sobre o doce colo da saudade que se esvai aos poucos. Quero mais, sempre vou querer mais. Contento-me com os poucos momentos que tenho por hora, mas sei que o retorno será regado a pequenas lágrimas que escorrem pelo canto dos olhos. Esse é mais um devaneio essencial dessa “persona dramática”.

Sinto-me como um pintor em frente à sua modelo, as formas nuas e delineadas sentindo meus olhos vidrados, a excitação, o pincel percorrendo os contornos da tela e a tinta colorindo aquele que seria o mais belo quadro existente; se existisse.

Lembro-me de noite pretéritas em que o inverno nos assolava de forma implacável, a proximidade dos corpos buscando mutuamente o calor um do outro, o aroma levemente adocicado e o barulho da chuva no teto, o barulho que ouço agora me remete a essas lembranças, a chuva escorrendo lentamente pelo teto e as idéias fluindo suavemente pelos dedos, esses digitam freneticamente. Essa é a introspecção mais simples e pouco lapidada possivelmente existente, mas é um pequeno apanhado de tudo aquilo entregue por Mnemosine à minha mente agora.

Eu vejo agora tudo o que ficou pra trás, as coisas lançadas a esmo e aos poucos minha tentativa de recuperá-las, mesmo por inúmeras tentativas, eu não consigo compreender quais razões me levaram a tais atitudes, sei, minha racionalidade, foi tão frívola, e a deixei tão facilmente de lado, no efêmero instante do reencontro percebi o quanto havia sentido falta dela, estava ali, novamente, de braços abertos, o racionalismo perdido no insano devaneio da solidão, ou melhor, do medo da solidão. Os conceitos sempre foram dissonantes. Simplesmente divagamos em um mar de possíveis rosas tentando esquecer os espinhos. Enfim, fim. Essas palavras enterram o assunto.

Por outro lado, os dados não pararam de ser lançados, sempre fui consciente de todos os meus desejos e os planos saíram dos trilhos por poucos momentos, meus objetivos novamente estão traçados, minhas metas estão estabelecidas e agora eu desabafo em pequenos escritos tudo que em mim, aos berros, estava trancafiado. Minha inspiração retornou aos meus braços e com ela me basto.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Vênus V

O homem que por vezes se depara com seus incontáveis estímulos de vivência, não obstante de sua alma deturpada pelas andanças libertinas. Uma alma que se torna apoderada pelas perdições da carne e não se contenta apenas com o deleite erótico de uma noite qualquer. Seu corpo, sua mente não saciam-se apenas com o corpo que nos seus braços toma, seus devaneios mais doentios não estão saciados. Ele precisa mais. O amargo do álcool que invade suas entranhas através do esôfago acorda o desejo incontrolável de fetiches peculiares. O corpo clama por aquela cruel soberana, e seu açoite. A mulher que no ardor das chamas do coito sabe contemplar a beleza do seu sadismo e delirar ao toque masoquista das mãos do seu homem. Clama assim a alma de um vivente que em suas andanças tem desperto seus mais íntimos desejos outrora adormecidos. O cigarro tentador que pende entre os lábios penetra os pulmões o fazendo divagar por entre lâminas e navalhas, o copo de whisky contempla o despertar das mais íntimas alucinações vestidas em peles e esvoaçando os cabelos rubros como seus “lábios”. Pervertida & Cruel.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

À ti, Morte.

“Assim, como em leito de morte,
Desfruto as alegrias da vida.
Mesmo que de foice em porte,
Não me ceifas da vida a alma.
E contra tua ardilosa retórica, Senhora,
Meu peito em alegrias palpita.

De alva pele e semeado ventre,
Em seu núcleo carrega a vida,
Que se opõe à tua natureza, Senhora.
A Dama que veste
Pureza contrastante a ti. Vida.”

Frederico Fagundes

quinta-feira, 31 de março de 2011

Teatro Da Morte

O teatro estava fechado, na porta, uma placa com os dizeres: fechado para manutenção”. A época eu não bem me recordo, mas eram lamparinas com óleo de baleia que iluminavam as ruas.

Mesmo com as portas fechadas, e aplaca, eu ouvia barulhos vindos do interior, sons estridentes, barulhos de chibatadas, gritos, gemidos...Em um impulso de coragem forcei a porta que, de pronto, se abriu, o ar inebriante adentrou minhas narinas que, instantaneamente, captaram o odor de sexo. Naquele momento meu coração disparou.

Um passo. A porta se fecha. Alguns candelabros com poucas velas acesas. O ar era sufocante, o chão e as paredes eram cobertos com veludo vermelho, corredores largos marcavam de forma sensualmente delineada o caminho ao anfiteatro, esse, vazio. O palco fazia-se com uma madeira avermelhada e coberto por folhas de castanheira. Bem ao centro do palco havia uma cama coberta com seda branca e sobre ele havia um casal.

Lentamente me aproximei daquele espetáculo desenrolado a passos lentos: Eu conheço o homem debruçado sobre a mulher. Mesmo tomado pelo medo e pela descrença, era eu minha imagem e semelhança; eu era o ator.

Pelo que me lembro, já me encontrava nu, meu corpo tremia em um delírio extasiante, sentia meu pulso acelerado enquanto eu vislumbrava aquela moça de alva pele e cabelos rubros, seus seios palpitantes à meia luz do candelabro que pendia logo acima de nós. Suas formas eram perfeitamente entalhadas, seus lábios pequenos e carnudos clamavam pela minha boca; pelo meu sexo. Porém ela parecia tão...Morta.

Mesmo em seu aspecto funesto, sua respiração era compassada e, da pele, emanava um calor que me afogava em perdição. Minhas mãos resvalavam pelas suas nuas, os seios modestos disparavam arrepios que percorrias nossos corpos, num repente, vagarosamente, seus olhos se abriram, revelando olhos cor de mel inundados pela volúpia.

Ela me reconheceu, de algum lugar, ela já me conhecia, seu olhar não negava. No silêncio eloqüente suas mãos passaram a percorrer meu corpo como se quisesse apoderar-se, tomar conhecimento de cada milímetro da minha pele.

Beijei-a, a tomei nos meus braços e nossas peles tocavam-se como se fosse a última coisa que faríamos. Sua boca era quente e num misto de mordidas e arranhões, seus quadris e seu sexo procuravam o meu corpo, as formas nuas uniam-se e nas pernas dela eu sentia a torrente de néctar advinda da flor dos seus desejos.

Ela me rendeu, tomando-me, quase que por inteiro, na sua boca, sugando de mim, toda a volúpia da qual ela se fazia desejosa, suas unhas quase rasgavam minha pele, a medida que minha mão a tomou firme pelos cabelos. Sua língua brincava, nossos corpos vibravam incansavelmente. Me virei e a tomei com a boca, como um vivente no deserto à beira de um oásis, suas pernas tremiam enquanto envolviam minha cabeça, o gemido ressoou sob a acústica perfeita do teatro, seu gozo enlouquecido a fez perder as forças.

Calmamente a deitei na cama e quase no mesmo instante suas pernas enlaçaram meus quadris e me puxaram para junto do seu sexo, a penetrei, fui completamente engolido por aqueles lábios vermelho-sangue. Mais um gemido ecoou pelas paredes, agora um gemido mútuo, beirávamos os gritos de prazer. Os extremos se tocaram criando uma atmosfera exuberante na agonia surreal do coito.

Prostrei-a de costas, a penetrei, cada estocada era como um mergulho por diferentes galáxias, os lençóis estavam molhados de suor misturado ao néctar exalado pelo sexo. Nossos corpos sofriam as conseqüências do ato que ali se desenrolava, tremíamos como se o frio nos açoitasse com seus sopros polares, tangenciávamos a loucura animalesca do acasalamento. O ecoar dos gemidos era constante.

Deitada, debruçada sobre seus próprios fluidos, banhada pelo gozo que vertia pelos poros sua agonia implorava o peso do açoite. O prazer de sentir-se submissa aos meus golpes a fazia gozar, seu corpo se contraia ao redor de mim. Agora a pele alva dava lugar às marcas do açoite e o suor misturava-se ao sangue.

Lado a lado, abraçados, suas costas molhadas tocavam meu peito, nossa comunicação se dava apenas pelos olhares, pelo silêncio, através dos gritos voluptuosos das nossas almas. Naquele palco éramos fadados ao silêncio.Não conseguíamos falar, como se não tivéssemos boca, nossa consciência era ofuscada pelo desejo; quando percebi quem eu era, já me encontrava despido. Esse era nosso fado, sexo, éramos fadados apenas ao coito.

Nossos sexos pulsavam, desejando mais, tudo em nós desejava sexo. Aquele corpo nu desejava ser sodomizado como o mais puritano dos pecados. Ela se abria aos meus amores, seu ânus engolia meu sexo como se desejasse esmagá-lo, era um novo mundo, aquele cu, cada movimento era lento e silencioso, éramos amantes maravilhosos. Seus gemidos quebraram o silêncio ao passo que minha mão tocava seu clitóris, seu lábios absortos em néctar, ébrios em profanações, os movimentos tornaram-se mais rápidos; gozamos. Inexplicável aquele evento, meu líquido a inundou enquanto ela, extasiada, tremia sob cada parte do corpo. Nos faltou o ar, nossos pulmões buscavam oxigênio, a boca seca buscava o vinho que não possuíamos e os músculos tremiam demonstrando exaustão. Meu líquido vertia entre suas nádegas, seu olhar era fixo no meu. Queríamos mais. Ao fim daquele ato estonteante, enfim conseguimos proferir algumas palavras, seus cabelos vermelhos agora jaziam entre meus dedos, seus olhos fixos nos meus, sua voz era doce como o mel.

Sua mão sobre o meu rosto, tocando delicadamente meus lábios, minha face. Nos abraçamos no gélido palco dentro de um mausoléu, não estávamos mais no teatro, era um mausoléu. Ali, deitados, entrelaçados no abraço da morte. Agora, a morte nos pertencia.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Join me in this Devildance

Por julgos e aparatos, por qualquer instrumento digno de carnificina que eu extravaso em palavras toda a angústia que em mim se esconde. Nessa pista de dança diabólica eu posso criar meu cataclisma pessoal, posso enxergar ao longe o pequeno subalterno existente dentro de uma (in)razão perversa.
Creio, pois, que independente de qualquer meio de proteção, não existe algo tão sem precedentes quanto o fogo e por mais que a água apague-o, sempre existira uma pequena brasa escondida em meios às cinzas. Assim como a fênix, assim como a imagem diabólica que se pinta nesse quadro absurdamente rabiscado em tinta óleo e sangue. Luz. Que o fogo emane luz, mesmo que indiretamente, sob os meus pés. Queime esses passos demarcados por qualquer protocolo e transforme o mundo exatamente no carpe diem que deveríamos viver. Ora, se por mais que sonhemos com liberdade, não podemos negar, ao menos a nós mesmos, que nada existe em termos de liberdade. Somos apenas prisioneiros em uma pista de dança formada por milhares de labirintos e celas invisíveis.

Que a música ressoe pelos cantos deste palco, que o som dos acorde metálicos reverbere por toda a imensidão e se transforme em um estridente lampejo de fulgores. Beba do vinho que nos enebria e torna-te senhora [comigo] nesse turbilhão de prazeres.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

(psic) Análise

As vezes, um ser evoluído sentado no divã com um cigarro entre os dedos, uma artéria pulsante no pescoço e uma idéia emergindo aos fulgores da chama. Um senhor bem vestido tragando a vida e caminhando pela mente.

Uma voz que é misto de frieza e simpatia, como uma gravação, vomitando palavras em um silêncio que por vezes dói aos ouvidos, alguém que por minutos tenta invadir a mente e trazer à tona as mais funestas e desvairadas lembranças. Um distúrbio mental que o inquieta, uma anomalia que simplesmente desperta pânico. A recompensa: Chegar em casa, sentar no sofá, pegar uma bebida e fumar mais um cigarro.

As idéias são como pregos que são forçados contra o cérebro, perfurando o crânio, atravessando paredes de ossos e se alojando na massa cinzenta que escorre pela têmpora, pensamentos e palavras são apenas um líquido viscoso que escorre pela vida.

“há um quadro na parede, é uma figura funérea, uma moça, pálida sob uma fraca luz que sob um leito de flores dorme o sono eterno, alva pele. Em pose como a lua por noite embalsamada que mais parecia um anjo entre as nuvens com os seios a palpitar sob as formas nuas sobre o leito. Quatorze versos que desenham o quadro, conduzido por pinceladas decassílabas de um gênio de outrora que encontra-se num lugar melhor do que nós. Há um outro quadro, o quadro da pobre, apontando para o chão, que dele riu, mesmo sob seu clamor para que não o fizesse.”

Parece um escárnio de amor e morte, pois a desgraçada era coxa. E nenhuma nota de alegria se calou por seu passamento, tampouco pelo do pobre que desenhava a morta, mas tanto faz, todos morreram com a cabeça cortada. E o que pintou a mulher que apontava para o chão morreu surdo.