quinta-feira, 31 de março de 2011

Teatro Da Morte

O teatro estava fechado, na porta, uma placa com os dizeres: fechado para manutenção”. A época eu não bem me recordo, mas eram lamparinas com óleo de baleia que iluminavam as ruas.

Mesmo com as portas fechadas, e aplaca, eu ouvia barulhos vindos do interior, sons estridentes, barulhos de chibatadas, gritos, gemidos...Em um impulso de coragem forcei a porta que, de pronto, se abriu, o ar inebriante adentrou minhas narinas que, instantaneamente, captaram o odor de sexo. Naquele momento meu coração disparou.

Um passo. A porta se fecha. Alguns candelabros com poucas velas acesas. O ar era sufocante, o chão e as paredes eram cobertos com veludo vermelho, corredores largos marcavam de forma sensualmente delineada o caminho ao anfiteatro, esse, vazio. O palco fazia-se com uma madeira avermelhada e coberto por folhas de castanheira. Bem ao centro do palco havia uma cama coberta com seda branca e sobre ele havia um casal.

Lentamente me aproximei daquele espetáculo desenrolado a passos lentos: Eu conheço o homem debruçado sobre a mulher. Mesmo tomado pelo medo e pela descrença, era eu minha imagem e semelhança; eu era o ator.

Pelo que me lembro, já me encontrava nu, meu corpo tremia em um delírio extasiante, sentia meu pulso acelerado enquanto eu vislumbrava aquela moça de alva pele e cabelos rubros, seus seios palpitantes à meia luz do candelabro que pendia logo acima de nós. Suas formas eram perfeitamente entalhadas, seus lábios pequenos e carnudos clamavam pela minha boca; pelo meu sexo. Porém ela parecia tão...Morta.

Mesmo em seu aspecto funesto, sua respiração era compassada e, da pele, emanava um calor que me afogava em perdição. Minhas mãos resvalavam pelas suas nuas, os seios modestos disparavam arrepios que percorrias nossos corpos, num repente, vagarosamente, seus olhos se abriram, revelando olhos cor de mel inundados pela volúpia.

Ela me reconheceu, de algum lugar, ela já me conhecia, seu olhar não negava. No silêncio eloqüente suas mãos passaram a percorrer meu corpo como se quisesse apoderar-se, tomar conhecimento de cada milímetro da minha pele.

Beijei-a, a tomei nos meus braços e nossas peles tocavam-se como se fosse a última coisa que faríamos. Sua boca era quente e num misto de mordidas e arranhões, seus quadris e seu sexo procuravam o meu corpo, as formas nuas uniam-se e nas pernas dela eu sentia a torrente de néctar advinda da flor dos seus desejos.

Ela me rendeu, tomando-me, quase que por inteiro, na sua boca, sugando de mim, toda a volúpia da qual ela se fazia desejosa, suas unhas quase rasgavam minha pele, a medida que minha mão a tomou firme pelos cabelos. Sua língua brincava, nossos corpos vibravam incansavelmente. Me virei e a tomei com a boca, como um vivente no deserto à beira de um oásis, suas pernas tremiam enquanto envolviam minha cabeça, o gemido ressoou sob a acústica perfeita do teatro, seu gozo enlouquecido a fez perder as forças.

Calmamente a deitei na cama e quase no mesmo instante suas pernas enlaçaram meus quadris e me puxaram para junto do seu sexo, a penetrei, fui completamente engolido por aqueles lábios vermelho-sangue. Mais um gemido ecoou pelas paredes, agora um gemido mútuo, beirávamos os gritos de prazer. Os extremos se tocaram criando uma atmosfera exuberante na agonia surreal do coito.

Prostrei-a de costas, a penetrei, cada estocada era como um mergulho por diferentes galáxias, os lençóis estavam molhados de suor misturado ao néctar exalado pelo sexo. Nossos corpos sofriam as conseqüências do ato que ali se desenrolava, tremíamos como se o frio nos açoitasse com seus sopros polares, tangenciávamos a loucura animalesca do acasalamento. O ecoar dos gemidos era constante.

Deitada, debruçada sobre seus próprios fluidos, banhada pelo gozo que vertia pelos poros sua agonia implorava o peso do açoite. O prazer de sentir-se submissa aos meus golpes a fazia gozar, seu corpo se contraia ao redor de mim. Agora a pele alva dava lugar às marcas do açoite e o suor misturava-se ao sangue.

Lado a lado, abraçados, suas costas molhadas tocavam meu peito, nossa comunicação se dava apenas pelos olhares, pelo silêncio, através dos gritos voluptuosos das nossas almas. Naquele palco éramos fadados ao silêncio.Não conseguíamos falar, como se não tivéssemos boca, nossa consciência era ofuscada pelo desejo; quando percebi quem eu era, já me encontrava despido. Esse era nosso fado, sexo, éramos fadados apenas ao coito.

Nossos sexos pulsavam, desejando mais, tudo em nós desejava sexo. Aquele corpo nu desejava ser sodomizado como o mais puritano dos pecados. Ela se abria aos meus amores, seu ânus engolia meu sexo como se desejasse esmagá-lo, era um novo mundo, aquele cu, cada movimento era lento e silencioso, éramos amantes maravilhosos. Seus gemidos quebraram o silêncio ao passo que minha mão tocava seu clitóris, seu lábios absortos em néctar, ébrios em profanações, os movimentos tornaram-se mais rápidos; gozamos. Inexplicável aquele evento, meu líquido a inundou enquanto ela, extasiada, tremia sob cada parte do corpo. Nos faltou o ar, nossos pulmões buscavam oxigênio, a boca seca buscava o vinho que não possuíamos e os músculos tremiam demonstrando exaustão. Meu líquido vertia entre suas nádegas, seu olhar era fixo no meu. Queríamos mais. Ao fim daquele ato estonteante, enfim conseguimos proferir algumas palavras, seus cabelos vermelhos agora jaziam entre meus dedos, seus olhos fixos nos meus, sua voz era doce como o mel.

Sua mão sobre o meu rosto, tocando delicadamente meus lábios, minha face. Nos abraçamos no gélido palco dentro de um mausoléu, não estávamos mais no teatro, era um mausoléu. Ali, deitados, entrelaçados no abraço da morte. Agora, a morte nos pertencia.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Join me in this Devildance

Por julgos e aparatos, por qualquer instrumento digno de carnificina que eu extravaso em palavras toda a angústia que em mim se esconde. Nessa pista de dança diabólica eu posso criar meu cataclisma pessoal, posso enxergar ao longe o pequeno subalterno existente dentro de uma (in)razão perversa.
Creio, pois, que independente de qualquer meio de proteção, não existe algo tão sem precedentes quanto o fogo e por mais que a água apague-o, sempre existira uma pequena brasa escondida em meios às cinzas. Assim como a fênix, assim como a imagem diabólica que se pinta nesse quadro absurdamente rabiscado em tinta óleo e sangue. Luz. Que o fogo emane luz, mesmo que indiretamente, sob os meus pés. Queime esses passos demarcados por qualquer protocolo e transforme o mundo exatamente no carpe diem que deveríamos viver. Ora, se por mais que sonhemos com liberdade, não podemos negar, ao menos a nós mesmos, que nada existe em termos de liberdade. Somos apenas prisioneiros em uma pista de dança formada por milhares de labirintos e celas invisíveis.

Que a música ressoe pelos cantos deste palco, que o som dos acorde metálicos reverbere por toda a imensidão e se transforme em um estridente lampejo de fulgores. Beba do vinho que nos enebria e torna-te senhora [comigo] nesse turbilhão de prazeres.