Penso muito na terceira pessoa. Meus pensamentos fluem de forma louvável de tal forma, mas essa é a hora em que eu me dirijo a mim mesmo, como em frente a um espelho. Existe a música, existem sons me cercando. Agora eu penso em mim, de forma específica, vivo para mim, desejo o melhor para mim, não penso em nada e penso em tudo, como um filme que percorre minha mente. Meu momento egocêntrico.
Sentado em frente ao teclado, o cigarro nos lábios e os pensamentos formigando na ponta dos dedos. Existe um amplo conceito ao redor de tudo, todos possuem suas conjecturas e nem sempre elas são compatíveis com as minhas, meu destino figura-se na imagem de um vivente sentado no divã e vomitando intermitentemente os seus doentios devaneios; essa foi a forma como conduzi milhares de pensamentos, assim guiei minhas máscaras a tornarem-se aquilo que sempre quis apresentar. Hoje caem as máscaras, hoje toda a fantasia cai por. Eu sou Eu.
A panacéia cumpriu seu papel, estou sentado em um santuário de papel e repouso sobre o doce colo da saudade que se esvai aos poucos. Quero mais, sempre vou querer mais. Contento-me com os poucos momentos que tenho por hora, mas sei que o retorno será regado a pequenas lágrimas que escorrem pelo canto dos olhos. Esse é mais um devaneio essencial dessa “persona dramática”.
Sinto-me como um pintor em frente à sua modelo, as formas nuas e delineadas sentindo meus olhos vidrados, a excitação, o pincel percorrendo os contornos da tela e a tinta colorindo aquele que seria o mais belo quadro existente; se existisse.
Lembro-me de noite pretéritas em que o inverno nos assolava de forma implacável, a proximidade dos corpos buscando mutuamente o calor um do outro, o aroma levemente adocicado e o barulho da chuva no teto, o barulho que ouço agora me remete a essas lembranças, a chuva escorrendo lentamente pelo teto e as idéias fluindo suavemente pelos dedos, esses digitam freneticamente. Essa é a introspecção mais simples e pouco lapidada possivelmente existente, mas é um pequeno apanhado de tudo aquilo entregue por Mnemosine à minha mente agora.
Eu vejo agora tudo o que ficou pra trás, as coisas lançadas a esmo e aos poucos minha tentativa de recuperá-las, mesmo por inúmeras tentativas, eu não consigo compreender quais razões me levaram a tais atitudes, sei, minha racionalidade, foi tão frívola, e a deixei tão facilmente de lado, no efêmero instante do reencontro percebi o quanto havia sentido falta dela, estava ali, novamente, de braços abertos, o racionalismo perdido no insano devaneio da solidão, ou melhor, do medo da solidão. Os conceitos sempre foram dissonantes. Simplesmente divagamos em um mar de possíveis rosas tentando esquecer os espinhos. Enfim, fim. Essas palavras enterram o assunto.
Por outro lado, os dados não pararam de ser lançados, sempre fui consciente de todos os meus desejos e os planos saíram dos trilhos por poucos momentos, meus objetivos novamente estão traçados, minhas metas estão estabelecidas e agora eu desabafo em pequenos escritos tudo que em mim, aos berros, estava trancafiado. Minha inspiração retornou aos meus braços e com ela me basto.