Faz
um ano. Muito mudou e nada mudou. Paira na memória, agora, apenas a lembrança
de algo já muito distante. Apenas uma névoa, apenas um simples fragmento. Fora
tudo tão conturbado, tão desesperador. Lágrimas posteriores a uma ligação
absurda. O final triste de uma festa “feliz”.
Quando
me pergunto onde repousa a paz; outrora a resposta seria simples, far-se-ia não
mais do que necessária uma ou duas palavras; em um ano tudo mudou. Mudou de
forma abrupta, mudou sem nada, na verdade, ter mudado. Expirou. Evanesceu da
mesma forma como a palavra logo após ser proferida. Escreveu-se em uma lápide
mais um epitáfio, mas nada mudou. A vida seguiu em frente [ou não].
Resplandesceu
em algumas nuvens a saudade, a lembrança, a memória, – se não fosse por
Mnemosine, o que seria de nós? – foi possível manter vivo o que já sofrera o
passamento e que, entretanto, “vivo”, não permanece.
Estranho
pensar naquele que, na ausência, assumiria o lugar. Mais estranho é pensar a
própria semelhança e ser capaz de olhar no espelho o resto “vivo” que resulta
apenas na imagem; fitar as velhas fotografias e tentar impedir a sensação do “choque”
vir à tona; o mesmo choque de um ano atrás, sem mudar nada.
Ter
a imagem apenas como vislumbre da pequena possibilidade do congelamento do
tempo, mas não rever, potencialmente, a matéria: a angústia e o pânico tomam
conta, inclusive, da mais pacífica mente. É estranho – unheimlich – perceber o ceifador espreitando sempre o de aparência
mais forte. A sensibilidade é implícita à própria distância que, mesmo ao não
ver, é capaz de, diariamente, fazer-se presente e lembrar do tempo cuja
presença da ausência ainda previa a existência. Na mudança do tempo, essa
ausência presente apenas reitera a “não mais existência”.
No
final, o resto é apenas saudade e algumas fotografias velhas, para que sempre
seja lembrado. E sempre fará falta uma ligação no dia de meu nome.
A.L.F. (Padrinho, Tio, Pai, Irmão, Filho, Marido, Amigo.)
A.L.F. (Padrinho, Tio, Pai, Irmão, Filho, Marido, Amigo.)