domingo, 3 de março de 2013

Murmúrio Do Sonhador


Penso que não há outra saída, senão a própria virtude da honestidade, personagem emboscado entre a parede e a própria consciência da necessidade de lhe falar. Penso. Apenas penso e as palavras morrem. Tenho medo de ser sincero, de dizer que não findou-se, entretanto temo o próprio medo. Obtuso pensamento a me perseguir. Questionamento infindável advindo do próprio delírio e do torpor de não saber como me sinto.
Fumaça. Eterna companheira, o filtro vermelho jaz nos lábios. E novamente me pego pensando. Apenas isso, e eu penso o dia inteiro. Apenas uma palavra e eu gostaria de te tomar para mim. Te levar para longe, onde eu possa desfrutar dos teus amores. Uma noite seria suficiente para eu me embriagar nos teus carinhos, nas tuas volúpias. Na impossibilidade de ser teu.
Ó sofreguidão sem zelo, quase soa como um deleite póstumo de um coração pútrido. O vinho embriag’alma enquanto tua imagem permanece no âmago ébrio solitário que palpita aos teus dizeres. Como podes, tu, dama da lua, fazer-me dessa forma divagar? Tropego em meio à frases versadas; na tentativa diletante de transformar-te em versos, pois os versos se transmutam em parágrafos pela impossibilidade poética de acolher os vislumbre que tenho de ti.
Uma noite eu tive um sonho, e tudo era lindo. O mundo nos pertencia e a areia da praia era morna. Tua mão pairava sobre meu rosto. Crescia no amálgama do toque a pura sensação do gosto. O gosto do gozo, o gosto de gozar a tua presença. E nada mais havia. O velho sôfrego dera lugar à poesia. E a alma jazia no absoluto da infinitude. E eu sabia, o sonho acabaria e tudo desfar-se-ia.
E eu acordei. Acordei e sonhei acerca do dia em que tua mão em mim tocaria. E tudo far-se-ia novamente alegre.