sexta-feira, 21 de março de 2014

Ensaio

Ensaio mil sorrisos desnecessários,
Ensaio o abraço duradouro.
Ensaio frases rebuscadas.
Ensaio teus versos enquanto vivente.

Desfio na pura matéria que me agrega
A imposta onda a suplantar a distância.
Mas nessa carta de amor ensaio a letra,
Ensaio o riso a desdobrar-se junto ao teu.

Nas páginas dessa carta eu escrevo
A razão do meu sorriso, o motivo.
Imperam nele as doces palavras,
O vermelho vivo do teu cabelo.

Nesta carta não envio alegrias,
[Nem tristezas]
Desfio a distância e a refaço
No abrigo dos teu abraço.

Os teus braços donde repouso meu coração,
Doce murmúrio, este que sonho
Onde teus braços me envolvem,
Teus lábios tocam os meus.

Me endoudeço ao vinho,
Permito-me ébrio delirar.
Ao embalo da tua imagem
Permito-me divagar.

E às noites, ao embalo do sono
Te encontro em sonho,
Lugar onde não há distância,
Há apenas eu e você.

Ao despertar dos teus beijos,
Desperto envolto no véu
Que desperta meus desejos.
O véu que nos envolve e nos mantém.

E novamente fecho os olhos,
Toco mais uma vez tua boca,
Bebo o vinho dos teus lábios
Ao vibrar de minh’alma.

Sigo ensaiando mil sorrisos,
Mesmo desnecessários,
Pois a ideia da tua presença
Me abraça em tua ardente ausência.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Till our last breath

Faz, refaz, reflete em si a pura forma de toda a pureza de si. No espelho o objeto enquadra a forma do caminhar uma vez tomado o progresso do devaneio. E ele repousa sobre a cadeira macia com o formato do seu corpo, aplica nela o próprio peso e se debruça sobre algumas folhas antigas.
Rabisca numa folha de papel, faz desenhos sem sentido algum, a fumaça dos vapores toma conta do quarto, aquele quarto um dia seu, em uma cabana perdida no nada, distante, o último refúgio de todos os vícios, naquele lugar a virtude deixara de ter lugar há tempos. No lugar reinava o caos, a lúgubre essência da matéria poética.
Enfim, como o sol a sair do meio das nuvens, algumas batidas na porta, reconheceu as mãos delicadas, eram mãos femininas a bater na porta.
Enrolou por alguns segundos, caminhou por antigos tapetes e desviou de algumas madeiras velhas, antigos medos, antigos obstáculos. Parou, olhou-se no espelho, a barba por fazer o condenava, aquele lugar não era habitado, era insólito e decomposto. Com alguma pesarosa aflição abriu a porta, cerrou os olhos, a luz do sol lhe queimava os olhos, a escuridão tornara-se sua única companhia.
- Olá, o que te traz à um lugar tão ermo?
- Nada em especial, mas é hora de ir embora, muito tempo já se passou e esse lugar não é mais pra você.
Por razões desconhecidas, aquele abismo já tinha dado seu tempo, a permanência lhe era fustigante ao espírito, bastava do poço, bastava de permanecer na lama que o envolvia.
- Preciso um tempo pra fazer as malas.
- Nem mais um segundo, vem.
Segurando Franz pela mão, puxou em direção à ponte que ficava defronte à saída da casa. Sem motivo algum, aquele toque mudara completamente toda a percepção de todas as coisas acontecidas até então.
De mãos dadas caminharam pela ponte. - Tanta coisa mudou desde que cheguei aqui. Argumentou Franz.
- Você não mudou, você se adaptou de tal forma a tudo, que tudo parece diferente, mas, no fundo, a essência permanece da mesma forma como um dia esteve. Na tua alma grita o amor que nos mantém de outras vidas, outros dias, outras horas, outras auroras.
Ela o abraçou, em seu abraço acolheu uma pobre alma despedaçada, colheu alguns cacos que ficaram pelo caminho. Durante tal operação, alguns pedaços se fundiram uns com os outros. Há algum tempo não havia razão para um sorriso. Tímido, Franz sorriu um riso tão leve quanto bobo. Seguiram de mãos dadas, tao vivos quanto as flores, tão cristalinos quanto o rio.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Forever yours...

Liberdade é ter um amor pra se prender.
Carpinejar


Há muito uma caixa estava guardada, escondida sob sete palmos de terra barrenta. Mas hoje tenho o que me basta, basta por si só, hermeticamente fechado e guardado num relicário guardado em teu peito. E a caixa? A caixa resgataste da maneira mais heroica já contada.
Nessa beleza me escondo em fluido vital de matéria à vida, dobro, desdobro e redobro a eloquência de um coração que bate por ti, coração inflamado em teus amores e embriagado em todos teus gestos delicados. Eis a forma, pura forma de toda a liberdade encontrada em ti, no amor guardado à sete chaves, no coração roubado e no charme chave de todas as palpitações. Ante tua bela presença adornada em encantos, em algum lugar do espaço/tempo as linhas passaram a ser preenchidas com outros tons e outras formas, resplandece, assim, no horizonte do mundo, uma nova significação. Os dias cinzentos foram tomados pelo puro sol morno quando caminhamos de mãos dadas.
Tu, bela, não reflete apenas a renovação da alma, mas a cor em si d'um quadro há tempos velho, cinzento e desbotado. O vermelho fogo coloriu o céu como um astro incomum e os jardins passaram a florescer na mais bela harmonia de cores.
Como, dessa forma, eu poderia distender meus carinhos senão a ti? E mesmo na tarde da preguiça, mesmo quando os dias são cinzentos e nublados, tua presença desponta como o sol a iluminar o gramado e a aquecer a alma na sensação insólita da tua presença. Nisso, a significação puramente se retoma ao próprio caminhar ébrio dos nossos passos e em minha alma pulsa a ideia  dos teus lábios repousando sobre os meus, tanto no "aqui e agora" como no porvir, onde os corações manter-se-ão sempre unidos.
Mesmo sempre tendo me visto como um diletante, me pus aos teus abraços e me entreguei aos teus amores, no ápice do meu tempo desfolhei em toda a matéria amorosa os meus mais belos versos, tão diletantes quanto bonitos, tão meus quanto teus. Tão presente quanto futuro. O nosso futuro, a nossa liberdade.