No abraço, ela chorou. Perdido, sem saber o que fazer. Ele a
abraçou forte, fez-se de escudo, manto protetor, sobretudo, capa; por frações
de segundos a tornou invisível, nenhum lugar do mundo a faria sentir-se tão
protegida como ali. Nos olhos dele brotaram lágrimas amargas, elas tomaram o lugar do riso nervoso de qualquer outra situação e ele a segurou mais firme.
“Chora, meu amor.” – Pensou sussurrando para si mesmo. “Deixa tudo escorrer pelos olhos.”
Acariciou-lhe as costas. A chuva parara, o tempo também, o vento batia no vidro
da janela e o infinito do céu cinzento os absorvia animalesco e acolhedor. “Adoramos
dias assim.” – Pensou de novo. Não era para haver tristeza, não hoje, não
assim, não não. Ele a acolheu nos braços, transmutaram-se, ela respirou fundo.
Olhos marejados e ele sentia como se as lágrimas escorressem pelos próprios
olhos.
[Pausa]
Calmaria. As mãos pequeninas deslizaram pelas costas,
chegaram aos ombros. Olhos grandes, mas tão pequeninos, maquiagem borrada, mas
havia um brilho naqueles olhos; as lágrimas deram lugar à calmaria. Ele passou
o dedo pelo rosto dela, tão puro, tão lindo. “Vai borrar ainda mais.” – “Claro
que não, to fazendo direito.” E continuou com o dedo pelo rosto. Um breve
sorriso, outro abraço.
O vento batia na janela, outro vento, outros ares, ela está
segura nesse abraço, ela sabe disso e ele sabe que ela sabe. Se abraçam. Um,
apenas um. Caminham abraçados pela cidade velha, o trânsito, calçadas velhas,
conversam pelas ruas estreiras, sempre abraçados; sempre um.