quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Toca

O meu jeito tão torto e perdido, tão repleto de assimetrias e idiossincrasias, uma forma completamente desforme refletida em qualquer pedaço de lata, refletido na ponta de uma caneta que agora rabisca o papel. Confesso, nem mesmo ter me acostumado a isso, tão virtuoso e repleto de todos os infortúnios dela. Detesto a perfeição, mas a procuro como um viciado procura por todos os cantos da casa um cigarro esquecido ou um pacote de fumo e papel para enrolar. Caminho de um lado para o outro, canso as pernas nesta busca constante de uma inconstante impossível chamada perfeição. Crível é toda a minha especulação, mas são apenas rastros de mim mesmo procurados por todos os cantos da imensidão de mim.
Meus rastros tão incompletos, os procuro em arquivos e páginas em branco, pedaços esquecidos e largados de lado, ou escondidos entre tantas faces de tudo o que precisei ser, não importa. Nesse caminho eu continuo sem lenço e sem documento. Sigo flanando sem eira nem beira, ora trapeiro, ora flâneur, as vezes nem mesmo sei qual destino, se é que existe algum, ou melhor, sei não haver um destino certo, apenas vislumbro essa imensidão de nada e procuro em meio a isso descobrir um tudo. A longo prazo, a taxa de sobrevivência de todos cai para zero.
Nego-me a permanecer no nada, eu sobreponho com certa arrogância minha busca e necessidade do plasma, eu o quero; felizmente há morfina para a dor, pequenas doses, compassadas e doces. Doces como o beijo, o toque, o afago. Ouso beber desse veneno tão teu, afinal não existe veneno pior que a própria vida. Em anéis tão divagantes como só eles mesmo, eu permaneço enebriado pelo gosto doce da pele, ou da boca, ou da boca. Ou de tudo junto, não sei bem ao certo, como o ópio a me embriagar o corpo e a alma, sabores e mais sabores.
O relógio jaz sobre o criado mudo e se derrete, deforma, cinge o espaço/tempo, cria, recria. E eu uso e abuso, transformo tudo em literatura, redesenho, redefino, redobro e o tempo se perde como um mero porém nessa equação de tão só existência, no Alleine Zu Zweit, onde encontro tanta paz numa queda livre pela toca do coelho, então os cavalos voam e os animais usam roupas.
Da toca do coelho, eu procuro o fundo, ter a certeza do quão profunda ela é e assim me perco na imensidão,percebo o brilho, mas não é ofuscante e nem assustador, é apenas um convite a mais. E procuro o plasma a escorrer pelo corpo, meus dedos, minha boca, meu corpo, desejo e o faço escorrer como seiva de uma árvore, néctar de uma flor. Flores pintadas dentro de um cesto vermelho, ou sem o cesto, não faz diferença, me desfaço do cesto e mergulho na imensidão profunda da torrente quente; me encontro, aliás, bem no fundo. O reflexo no espelho se faz tão claro como a lua se banhando nas águas geladas do mar no inverno. E sinto o cheiro de vida, me sinto pulsante como uma alma a vibrar em pleno fôlego.

Entre tantas linhas e entrelinhas sou eu mesmo, esse sujeito tão torto e assimétrico dado à angústia de encontrar a perfeição tão odiada, no entanto não me enfastio da busca, tomo notas, faço anotações, divago. Durmo.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Aquela história perdida de anos atrás.

Eu lembro das tuas mãos pelo meu corpo,
O teu corpo resvalando nas minhas mãos.
Minhas pernas entre as tuas, tuas unhas me arranhando, tua boca me engolindo.
Sempre quis aquele beijo que te roubei no corredor,
Te jogar na parede foi meu presente de aniversário e todos cantavam parabéns.
Tua voz doce sussurrando desejo e meu corpo vertendo tesão.
Beijo doce de menina mimada, mão tesa de insânia volúpia.
Tuas pernas abraçando meus quadris e tuas costas roçando na parede.
Enquanto todos cantavam parabéns, teu sexo engolia o meu.
Teu gemido doce e enjoado, voz fina pedindo mais.
Meu gozo quente escorrendo pelas tuas pernas e tua calcinha lambuzada.
Nos comemos na parede e todos cantavam parabéns.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Parede

Algumas razões simplesmente pressupõem outros aspectos, mais profundos, prazerosos, excitantes. A suposição recai no percorrer dos cantos escuros. Mas a noite gelada instiga outros torpores, outros vapores, assim como o vapor que sai pela boca, o vapor da baforada do cigarro enquanto o vento gelado chamusca a pele quente.
Às voltas pelas calçadas, um canto escuro, um holofote e a sensação de ser observado, pensamentos fluem melhor com o frio, audacioso em todas as lubricidades, o cérebro aturdido por sequências contínuas de pensamentos. No torpor das ideias, encontro o corpo, a parede; dominado pela presença provocante; teu corpo apoiado na parede, o vento frio, os dedos gelados. Tua boca sob a minha, no canto escuro tuas unhas que arranham minha nuca.
Minhas mãos brancas passeando entre tuas coxas, procurando o calor do teu sexo, tuas pernas traçando o caminho aos meus dedos. Tuas mãos respondem meus sentidos aguçados, percorrem minhas costas entre calafrios e arrepios. A boca procurando meu pescoço, meus dedos procurando os lábios entre as pernas quentes; o arroubo dos dedos, a pressão, os suspiros.
Empurro a mão, percorro a calça, o sexo molhado pulsa na mesma sintonia do meu roçando nas tuas pernas, em meus dedos, teu sexo, escravo dos meus delírios, tuas mãos apertam minhas costas, puxam meu corpo de encontro ao teu. Sufoco aos beijos os suspiros, mexo rápido, forte. As mãos desafivelam meu cinto, entre as camadas de roupa, me afasta das tuas pernas e me procura: duro, pulsando.
Tuas pernas tremem, o gozo se aproxima, a respiração cerrada acumula força, te acaricio encharcada de todos os fluídos do tesão congelado, derrama sobre meus dedos o gozo quente, fervoroso, seguro tuas costas enquanto as pernas tremem. Gozo ao sentir meus dedos molhados, na tua mão verte o sêmen quente, ímpio. Entre teus dedos jazia latejando às últimas gotas meu sexo exaurido.
Lentamente tirei a mão de dentro das tuas calças, lambi os dedos, deleitando-me ao sabor agridoce do sexo. Sequei os dedos, limpaste a mão. No mesmo canto sentamos, um cigarro aceso, o vento não estava mais tão gelado, nem a noite, nem nada, tudo era mais claro agora. Seguimos com a mesma conversa. Caminhamos de volta.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sacré et Profane

Aos beijos embalo a seiva a verter dos lábios, o corpo ainda trêmulo, as mãos ainda firmes. Meus dedos tocam teus cabelos na mais doce das agonias, o sexo ainda pulsa ao frenesi dos nossos corpos. O abraço singelo perpassa o corpo, a alma; a indiferença frente ao tempo, a suspensão do espaço/tempo onde o sexo é literatura.
Nesse lugar onde o sagrado não difere do profano, esse lugar onde a alma permanece única em todos os momentos; não interessam as razões, nem os porquês. Muito foi guardado por tanto tempo, guardamos um amor um para o outro, não importa a distância, quando estamos sempre perto. Eis o encontro das metades a propiciar a perfeita intervenção ao espaço/tempo; apenas conceitos ante às vidas que esperamos.
No profundo âmago, ébrios um no outro, embebedamo-nos no licoroso carinho das almas, enfatizamos a perfeita sincronia/perfeição da simples existência mútua enquanto seres criados um para o outro. No momento, esperamos pela razão contínua da infinitude de tudo o que há em nós, entre nós, por nós, por tudo. A família, ei-la em toda sua plenitude.
A nossa família, nosso bem maior, a riqueza de todas as coisas possíveis de conquistarmos; ao amanhecer, a caneca de café, o beijo doce, o café, o beijo levemente amargo, morno, quente, você, nós dois e o gosto do café. Te tomo nos braços, o doce amor do amanhecer; teu corpo enrubesce nas carícias costumeiras de todas as manhãs. O vapor morno emanando do banheiro, mais um dia começa.
Aos beijos, dormimos embalados no abraço eterno que nos mantém, o calor que emana do corpo, a noite trêmula, pálida lua, frio convalescente, tão acolhedor, acolhedor como nosso eterno abraço. O beijo, o abraço tão sagrado. Sonha comigo.
Puro eterno, no sacro embalo permeio teus sonhos, te embalo no calor dos meu braços.

domingo, 8 de novembro de 2015

Homesick

Nesta breve história, talvez eu tivesse de sair de mim mesmo, deixar minhas roupas de lado, vestir apenas a máscara essencial do personagem. Mas no breve pacto firmado, nunca fui capaz de baixar a guarda. Não há nem lugar definido neste palco imenso, não há centro, nem verdade. Só um divã vermelho mal colocado, uma cadeira de braços e uma pessoa imaginária sentada. Não adianta falar, aliás, não há nem o que falar, minhas palavras são rodeadas por um silêncio tão ensurdecedor, meu paletó tem forro natural coberto por uma sensação lúgubre, uma nostalgia leve, vontade de voltar pra casa.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Shine

Hoje eu escrevo com uma alegria tamanha que nem direito cabe em mim, escrevo sem nós e entrenós, escrevo sozinho atrás das teclas vermelhas do teclado iluminado. Deslizo os dedos com a mesma alegria que um pintor desfere golpes na tela vazia, brinco com palavras, escrevo reescrevo e me perco na escritura de mim mesmo. Reencontrei em cada canto os pedaços de mim mesmo, entre um gole e outro encontrei a mim mesmo, ébrio em tantas coisas que já nem lembro mais, no entanto encontrei algo, algo tirado há tanto tempo e eu já nem lembrava mais.
Hoje foi dia de limpeza, dei conta do tempo perdido, abri espaço para móveis novos, planejados, desenhados especificamente para mim. Sou egoísta, sim, nunca neguei, mas sempre tento ser o meu melhor, enfim, não há dúvidas, nem sempre o melhor é bom suficiente e eu aprendi a não ligar. Também aprendi da forma mais complicada o quão perfeito é o aroma da liberdade, da vontade de correr e respirar. Tirar a venda e ver que há, sim, cor e o mundo não é aquele colorido-preto e branco. Também pintei as paredes, tirei os quadros antigos e entreguei para doação. Redescobri o brilho de algo tão perdido entre as brumas ululantes a me ofuscar a visão. I don't care anymore. I don't care about nothing. 
And you, baby... Shine your light down here...shine.

There is no mistery at all. I smoke your mouth and burn your body. You smoke me and burn me inside. Like put out fire with gasoline. No mistery....At all.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Tonight is Bourbon night!

O scotch acabou, garrafa vazia, mente vazia, corpo vazio... Aliás, tudo o mais é vazio e nada muda isso, it's all void and I don't care, porque eu caminho preenchendo lacunas desde tão cedo que já tenho nem mais conta. O importante é que hoje o scotch acabou e só tem bourbon, Jack doesn't taste the same as Johnnie, mas está tudo bem, aliás, tudo tem estado tão camufladamente bem que eu já nem sei mais se estou sorrindo ou chorando, mas também não faz diferença, eu corro atrás de tantas coisas diferentes, caminho tantos passos diferentes que já nem me reconheço em frente ao espelho. Um dia faço a barba, no outro não, quando penso em tudo como parte do passado, recebo uma carta e reconheço a perspectiva de todo o futuro e eu já não sei mais por quais ruas caminhar além da mesma linha reta a qual tracejo tão cambaleante, embriagado pelo torpor mais simples do universo: a vida. And it doesn't make any sense anymore.
By the way, nem tudo transcorre como eu gostaria, mas o importante sempre se estabelece na união de todos os laços, tenho tanta saudade quanto vontade de ligar e gritar até não conseguir mais, desejo corpo e alma e sei o quanto é tarde para isso e finjo não me importar velando dias na companhia de um rock balada mais ou menos e algumas doses de qualquer coisa meia boca, assim como o café meia boca, bebida meia boca, barata, velha, jogada num canto qualquer de um bar. Outra dose, mais uma e quem sabe outra daqui a pouco, não importa, I'm numb of all pain I've been trough. One more pack, please.
Olha, vou te dizer, muitas coisas mudaram nesses tempos, o sol não é mais tão quente e os dias são mais gelados, eu tenho sido tão gelado quanto o nono círculo do inferno. Eu tinha tantas coisas pra dizer, mas quando tudo passa como um filme antigo em preto e branco, restam apenas créditos subindo pela tela e, novamente, eu pouco me importo, de novo tem um rock balada meio estranho tocando alto no alto falante improvisado.
Sim, me tornei todas as coisas das quais eu não queria ser, mas isso não é culpa de ninguém senão minha, o que também não faz diferença, o importante é que nada melhor que um sorriso bem encenado para esconder todas as ruínas de uma cidade tão fantasma quanto vazia, and they don't hear me cry and it doesn't really matter. Coming along with me, I had a whole new world to show you, but sometimes love is not enought, we really know, and it doesn't matter anymore. Yes, I really blame you since you wore these double blind patcheyes of yours. What am I supposed to say? I'm sorry? Not really. I'm actually glad, because, at the end of the day, I serve my scotch and forget about all these things of my past. Who cares about tomorrow? Nobody. I'm no different. Show them some rock n' roll, My Darling.
As I said before, I keep here and you keep there, I lick my wounds and you remember of me every fucking damn night. Keep believing in whatever you want to, I don't care, but have always in mind what you have thrown in the garbage. For the record, I will always love all your fucking cazyness, that is the way I dance.
Nothing's better than a black suit to forget everything. And, by the way, I've found the scotch.







segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Here and there!

Qual o teu problema? You stay there and I stay here, licking my wounds, moaning about life and drinking every drop of scotch I find. Tira logo essa tua roupa, senta logo no meu colo, me engole com teu sexo faminto. Escreve minha pele com tuas unhas, me marca como teu animal. Eu te farejo em cada canto do nosso quarto, te desejo com cada célula do meu corpo. Eu tremo de pensar na tua súbita inexistência.
Eu caminho por essas ruas pensando no teu corpo perto do meu, tuas mãos amarradas, incansável, sempre querendo mais: tua dor, nosso prazer. Traças em mim tua boca quente e teus dentes afiados, tua saliva escorrendo pelo meu pescoço.
Deixa disso e vem aqui, chega perto e eu te carrego até a cama, falo uma dúzia de frases românticas e dez dúzias de sacanagem, nossa receita sempre foi perfeita. Essas feridas abertas e inflamadas que nunca fecham, não por desamor, mas por amar demais, amar mesmo longe e perceber que tudo mudou, mas nada mudou. Teu drama, meu drama, meu corpo, teu corpo, meia dúzia de carinhos e um tapa na cara, minha gravata no teu pescoço e minha camisa rasgada, meu gozo te inundando, manchando tua calcinha antes de ir trabalhar. Mesa posta do café.
Meia duzia de torradas, teu café forte, arroz queimando na cozinha. Boca sedenta e eu te amarro no quarto. Sei bem, já disseste que aguentas uma vida inteira assim ao meu lado. Joelhos machucados e o almoço pronto. Teu corpo pendendo no ar e meus dedos enfiados entre tuas pernas. Sobremesa. Beijo doce, romantismo, carinho e uma poesia torta.
No trabalho, conto as horas de voltar pra casa, procuro tua sala, vasculho tuas gavetas, deixo uma carta de amor, tua calcinha ainda no meu bolso e a marca do teu salto no carpete, teu cheiro impregnado em mim. Tua marca de batom no meu copo de whisky. Espero ansioso tua presença, ensaio uma melodia prazerosa, music to drink and fuck, a pile of books segurando a cama quebrada, tuas marcas nas minhas páginas, cheiro de livro velho com a capa cheirando a sexo.
Tudo junto, no fundo da nossa taça de vinho, a noite vai alta e tua camisola como sempre alinhada, cada noite uma diferente, maquiagem borrada, cabelo bagunçado. Te gosto assim, tu torta e eu te comendo em fatias.

Dance dance....Dance.

Anda. Caminha nessa linha tracejada no quintal da minha casa. Desfila nos arredores, tira meu sono, me embriaga. Ensaia teus passos de dança na minha cama, enquanto teus pés me são taça de vinho. Declama tua poesia torta enquanto eu te como inteira. Desse amor, te quero chupando até o gozo, me sufoca nas tuas pernas lambuzadas.
Rasteja nesse lençol carmesim que te envolve, retorce teu corpo montada em mim, geme doce o teu grito mais desusado, verte sangue das minhas costas. Deixa a música tocar, o corpo dançar. Acende logo esse cigarro e me traga por inteiro. Temos tempo, darling. Temos todo o tempo do mundo, esse fragmento da eternidade nos pertence. Toca minha mão e escreve com gozo essas linhas inflamadas, afetadas, cretinas e masoquistas. Baby, quando te vi eu não soube se queria matar ou queria meter.
Dança comigo essa dança, vamos rodar até não conseguir mais, cair exaustos, com os pés machucados e o sexo ferido. Eu tenho esse sorriso torto que sempre foi teu  e teu rosto sempre brilhou mais forte no reflexo do fio de luz que entrava pela janela.

sábado, 24 de outubro de 2015

Palimpsesto

O corpo mal esfriara e já pensavam no próximo passo.
Velado por dias.
O grito do moribundo se desfez, contemplando as portas do paraíso. Finalmente liberto, embalsamado, tomado.
Algo o consumia, corroía cada milímetro daquelas entranhas enrijecidas, geladas, pálidas. Novamente o palimpsesto. Outra história engendrada entre arranhões. Começo torto, final torto.
Tudo girando na polissemia redundante. O mundo dá voltas.
Há pouco enterrado e já viviam outros sorrisos.
Perverso mundo polimorfo que flutua em magma. Findou-se a volta do retorno. Nada mudou.
Túmulo fechado e tudo segue como a multidão pelas ruas, como a água na sarjeta. Ninguém disse que seria fácil tampouco qual o tratamento.
Quatro doses por dia poderiam ter sido suficiente, e não foram. Cinco, seis.O mundo em chamas e eu a fumaça. Fumaça do crematório, jazigo perpétuo com cama arrumada para dois.
Marcha fúnebre para dois, batido, não mexido. Whisky sem gelo. Vida que segue. E nas entranhas sempre há espaço para mais uma dose. 
Tudo em chamas na árvore de natal d'um riso reencontrado. He's going crazy.
Morre pelo menos cinco vezes por dia e a vida não para, não há tempo nem para morrer. Há de morrer de amar mais do que pode. Do amor, engole cada gota, mesmo que lhe escorram pelo rosto.
Come on baby, take a chance. I'll introduce you in this Devil Dance. And we dance 'till die five or six times. Não há razão de olhar pra trás.
Breite dune Flügel aus und flieg mit mir die Nacht. Because there is no reason to regret. 


Artífice da pantomima.


domingo, 18 de outubro de 2015

Vertigem

Foi. 
Caminho distante
Cruel perverso
                 Polimorfo.

Pela estrada embalsamada
O vento gelado lambe-lhe a tez.
Passos tortos. Espaço.

                               Fumaça. Fogo...
                                                               Corpo de pedra quente, geléia de magma.


Corta. Nova cena.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Caso

É no papel velho que tracejo versos desgastados e repetidos, mantenho-me firme como uma estátua, impassível como um antigo guerreiro chinês, olhos focados no nada sem foco, mas a firmeza constante. Procuro no espelho as marcas de expressão que já atingem meu rosto, os sinais do tempo. Ele passou e nem percebi, carregou consigo tantos sorrisos e tantas palavras sábias, hoje restam-me apenas uma ou duas que guardo sabiamente para o momento correto. Bem sei ser um poço de defeitos, um arranjo em pedaços, colhido pelo tempo e por alguma amargura.
Life isn't easy, my friend. Uma vez me falaste em uma carta cuja compreensão só se faz por inteiro agora, mas também não prestei atenção e esta falha é minha, devia ater-me aos pontos mais importantes e deixar de lado as (des)importâncias, a verdade é que faço delas uma máxima existencial, bem me consomem, eu sei, mas desaprendi a lutar contra.
Aliás, durante os anos desaprendi a lutar contra tantas coisas, não devia criar esperanças de nada, mas me vejo circundado por elas e num repente me pego pensando "FUCK", e aí já era, tarde demais, "a próxima, por gentileza". Mas sou sempre astuto no que tange meus referenciais, ah sim, confesso que sou, despojo todas minhas íntimas batalhas e sigo andando, caminho pelas ruas com um sorriso inconfundível de perfeição e plena alegria, tenho, sim, tanta calma em meu olhar que chega a ser irritante, but still waters run deep, my friend e eu sempre procuro mais. O mundo é como uma droga que me consome e eu a ele, talvez aí paire a razão da existência. Não sei ao certo, mas eu sigo sempre caminhando.
Nesta cidade portuária, sempre me lembro do Pessoa, caminho próximo ao cais do porto, subo ruas, desço ruas, no fim não há nada, aliás, nunca houve coisa alguma, no entanto há sempre um motivo para caminhar. Atravesso ruas. Pessoas, as vejo constantemente, nunca olho para nenhuma delas, aliás, pouco me recordo da última vez em que factualmente olhei uma nos olhos, mas também não vem ao caso, enfim, tantas coisas não veem ao caso, nem mesmo este escrito vem ao caso. Mas eu sigo caminhando... sem lenço e sem documento. Eu vou, mas tudo não passa de uma piada velha.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Pessoando

Nas brumas da noite, a madrugada cálida se distende entre as brumas, percorre o vento os cantos mais insólitos de mim, assim como tua alma a perspassar constantemente a minha numa dança monumental onde somos os ocupantes desse lugar tão heróico, a busca pelo amor finalmente encontrado, a plenitude completa das nossas almas esfaceladas pelo tempo. E eu sigo caminhando ao teu lado, tua mão segurando a minha e eu sinto o calor, sinto tua presença a cada passo, cada instante, ao fechar os olhos e me entregar ao sono, penso e repenso outra vez em ti, adormeço; acordo, desperto de sonhos onde embelezas harmoniosamente tantas telas pintadas.
O fogo chamusca as paredes da lareira e eu bebo o vinho, talho, retalho, dobro, desdobro e re-dobro pequenos manuscritos originais que um dia tornar-se-ão textos de verdade, transformo em escritura um sonho cigano. O vapor do chá deixa o ambiente morno e as gotas de chuva salpicam o telhado. Sigo escrevendo como se andasse por uma calçada, pulo poças d’água, costuro passos e procuro a ti em cada parte de mim. Novamente refaço algumas anotações, quebro margens, parágrafos, me aventuro em alguns versos e a tua imagem permanece ali, pirografada na minha retina. Desafio a mim mesmo em eternos confrontos literários.
Eis, então, na literatura te trago pra perto, ofusco a saudade no brilho do lampião aceso no canto da lareira, estremeço em êxtase ante a imensidão do tão sonhado futuro, planejo, replanejo, faço desenhos e tenho sonhos. Ironia, pois, a parte de ser nada, tenho todos os sonhos do mundo;

domingo, 11 de outubro de 2015

Linhas

Nessas linhas desdobro meu viver,
Aprendiz da tua poesia, singelo
Caminhar ao teu encontro.
Nos versos brancos da tua pele,
Acolho tu’alma no infindo abraço,
Em desfrute eterno dos amores.
E tua alma junto à minha,
Percorre os campos calmos e floridos
Na tua mão encontro a minha
Onde a linha da vida se cruza ao eterno,
Quando teus olhos param nos meus
E eu entrego à ti os meus carinhos.
Quando a imensidão nos acolhe
Em apertado abraço,
Desfolho em ti o sorriso guardado há tempo.
Então tua mão aperta a minha,
Tão firme quanto doce
Expurga os medos de outrora.
A esperança do porvir me embriaga a tez,
Junto ao sorriso teu
A lua alva como tua pele me ilumina
A fonte de todos os amores;
Teu corpo, como o mar, reflete
O eterno brilho do luar.
Eterno como nós dois, nas
Tantas vidas unidos,
(Re)unidos.



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Gloomy Void

O trem partiu, ainda vislumbrei as lágrimas e às lagrimas caminhei pela rua deserta. Nada pulsava mais, escala de cinza, apenas isso, escrevi algum verso torto na rua e não me importei com a poeira nos sapatos, um rasgo entre mim e a realidade. Imaginei, ainda, tantos sorrisos, como em sonho senti teu cheiro. Tudo está do mesmo jeito, cada uma das coisas em seus determinados lugares, não limpei a casa, a cama ainda está feita, durmo só de um lado gelado da cama, mesmo nas noites quentes, tudo é frio.
Dissolvo linhas imaginárias nas manchas do travesseiro, manchas de tantos sonhos não sonhados; acordo gritando, em meio a madrugada, percorro as linhas dos livros, procuro nelas tantas imagens, o bonsai não morreu, aparenta muito mais vida, mais força, nada é capaz de destruir. E eu temo, quero fugir, sair correndo, mas meus músculos atrofiados, paralisados... eles apenas são e tudo apenas bate, nada mais pulsa, sem vibração. Na garganta, esse choro seco sufoca, sufoca, suf...

A vitrola tem o mesmo disco da última vez, a música que tocava não toca mais, há o silêncio ecoando na presença da tua ausência. I’m just a locomotive breath without the recall.

domingo, 20 de setembro de 2015

Heimos

Queria eu, em poesia prosa,
Cantar todo esse encanto
Que em plenos ares, pleno puro canto
Canta aos cantos esse amor.
Que digo de passagem, me encanta
tanto,
Mas canta todo o encanto da matéria.
As vezes, penso cá comigo;
Queria eu te deixar em paz...desgrudar da tua pele, te deixar só...
Mesmo assim, tu tão grudada em mim
Esse cheiro, esse gosto que me invade os lábios, invade a casa.
Eu caminho, sem lenço, sem nada;
Teu vulto em cada esquina,
Tua prosa,
Teu verso.
Esse teu canto que me encanta,
Versos perdidos numa prosa torta
Comida em fatias.
Teu caminhar ao meu lado,
Teus lábios que escapam aos meus,
Canto que encanta.
Sim, heimos...morramos amando,
Mata-me.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Bitter

O sol se pôs, reinou novamente a noite em cárcere, exílio, fuga... Era para tudo ser diferente, nada mudou e tudo desmorona. No fundo da xícara há o café frio, recém passado, mas sem gosto. No escuro tudo parece mais claro e tudo toma conta, dói como a última dor do terminal, ninguém ensina algumas coisas.
Nem eu aprendi como viver sem.
Velei a noite a espreita da tua chegada, velei os tempos esperando um sinal que jamais veio, revirei memórias e chorei o choro amargo da tua ausência. Procuro lembranças em todos os cantos, no âmago ébrio de mim encontro tuas marcas, já faz tanto tempo e nem faz tanto assim.
Sonhei te reencontrar, sentir teu cheiro, teu toque, mas desde quando sonhar dói?
Foste embora e fiquei sentado olhando para o nada, tantos textos que não te mandei, tantos risos que não rimos. Entreguei tanta coisa em tão pouco tempo e, do nada, nem me encontrar mais eu consigo. Talvez minha carta nunca chegue. Eram tantos pedidos e teu silêncio fora capaz de me consumir. Conto de fadas pensar que seria bom voltar no tempo e ser diferente. Se naquele dia, em meio às tuas lagrimas, eu fosse ao teu encontro?
Já não sei mais. Aqui dentro nada mudou, não sei quanto tempo preciso esperar....

domingo, 26 de abril de 2015

Momento este de folhear o livro

O momento este onde paro e abro o livro; por onde começar, qual caminho, qual linha a seguir? Qual parágrafo, estrofe, verso? Qual? Esse meu pensamento tão distorcido na demanda de pensar mesmo quando o cansaço me toma como escravo. Mas penso em ti, estrela equidistante pluricultural parisiense de netuno que me captura como um todo. E tu, viajante de pés pequeninos, navegando em águas tão revoltas, nestas águas tormentosas que escrevo como quem escreve no fundo do espelho. Em ti. É em ti que eu penso. Então eu viro a página. Me dizes “eu tenho medo”. Tu, tão pequena e inenarrável, ali, na frente da porta da aula, jamais esqueceria de ti: pegaria na tua mão; teu sorriso tão bonito. Espero o ônibus contigo. Te roubo um beijo enquanto o ônibus não vem. E eu vivo me perdendo em tantas referências que emprego a ti. Então te escrevo uma carta em letra torta e enviesada. Tu lês e sorri. E eu viro a página de novo.
Riste entre as linhas e te perdeste nas entrelinhas de mim ao me decifrar melhor que minha própria escritura. Eu te sequestraria, roubaria pra mim; sentaria ao teu lado e esperaria tua síndrome de estocolmo aflorar como quem espera uma rosa azul desabrochar. No cativeiro, nossa trilha sonora transitória iria de Wagner à Tropicália, perder-se-ia na geléia geral entre Beatles e Pethit, teu Beatles e meu Tull. Ficaríamos exaustos até nossos corpos não mais conseguirem se tocar, não por falta de vontade, mas que faltasse o fôlego, a força, houve ali só nossas almas tão bonitas no céu colorido azul dos lencóis purpúreos.

Sim, te sequestrei e prendi nas esquinas e arredores dos meus sonhos e das minhas bibliotecas imaginárias tão reais, - me dá um beijo? – esse beijo bom que derruba e desfolha livros, os devora como sedentos pela carne um do outro, pela alma, pela essência. No entanto peço desculpas por te encher de mim mesmo, quando prometi doses infinitas e constantes, não disse que poderia transbordar tudo... E eu te seguro nos ponteiros deste tempo tão limítrofe e vagaroso que escapa ao relógio, escapa à nós. Vem cá, me dá um abraço, princesa, sei que é necessário mais que um beijo pra te acordar, mas vem, volta pra cama. Vem dormir comigo na noite fresca dos nossos amores?