domingo, 26 de abril de 2015

Momento este de folhear o livro

O momento este onde paro e abro o livro; por onde começar, qual caminho, qual linha a seguir? Qual parágrafo, estrofe, verso? Qual? Esse meu pensamento tão distorcido na demanda de pensar mesmo quando o cansaço me toma como escravo. Mas penso em ti, estrela equidistante pluricultural parisiense de netuno que me captura como um todo. E tu, viajante de pés pequeninos, navegando em águas tão revoltas, nestas águas tormentosas que escrevo como quem escreve no fundo do espelho. Em ti. É em ti que eu penso. Então eu viro a página. Me dizes “eu tenho medo”. Tu, tão pequena e inenarrável, ali, na frente da porta da aula, jamais esqueceria de ti: pegaria na tua mão; teu sorriso tão bonito. Espero o ônibus contigo. Te roubo um beijo enquanto o ônibus não vem. E eu vivo me perdendo em tantas referências que emprego a ti. Então te escrevo uma carta em letra torta e enviesada. Tu lês e sorri. E eu viro a página de novo.
Riste entre as linhas e te perdeste nas entrelinhas de mim ao me decifrar melhor que minha própria escritura. Eu te sequestraria, roubaria pra mim; sentaria ao teu lado e esperaria tua síndrome de estocolmo aflorar como quem espera uma rosa azul desabrochar. No cativeiro, nossa trilha sonora transitória iria de Wagner à Tropicália, perder-se-ia na geléia geral entre Beatles e Pethit, teu Beatles e meu Tull. Ficaríamos exaustos até nossos corpos não mais conseguirem se tocar, não por falta de vontade, mas que faltasse o fôlego, a força, houve ali só nossas almas tão bonitas no céu colorido azul dos lencóis purpúreos.

Sim, te sequestrei e prendi nas esquinas e arredores dos meus sonhos e das minhas bibliotecas imaginárias tão reais, - me dá um beijo? – esse beijo bom que derruba e desfolha livros, os devora como sedentos pela carne um do outro, pela alma, pela essência. No entanto peço desculpas por te encher de mim mesmo, quando prometi doses infinitas e constantes, não disse que poderia transbordar tudo... E eu te seguro nos ponteiros deste tempo tão limítrofe e vagaroso que escapa ao relógio, escapa à nós. Vem cá, me dá um abraço, princesa, sei que é necessário mais que um beijo pra te acordar, mas vem, volta pra cama. Vem dormir comigo na noite fresca dos nossos amores?