O trem partiu, ainda vislumbrei as lágrimas e às lagrimas
caminhei pela rua deserta. Nada pulsava mais, escala de cinza, apenas isso,
escrevi algum verso torto na rua e não me importei com a poeira nos sapatos, um
rasgo entre mim e a realidade. Imaginei, ainda, tantos sorrisos, como em sonho
senti teu cheiro. Tudo está do mesmo jeito, cada uma das coisas em seus
determinados lugares, não limpei a casa, a cama ainda está feita, durmo só de
um lado gelado da cama, mesmo nas noites quentes, tudo é frio.
Dissolvo linhas imaginárias nas manchas do travesseiro,
manchas de tantos sonhos não sonhados; acordo gritando, em meio a madrugada,
percorro as linhas dos livros, procuro nelas tantas imagens, o bonsai não morreu, aparenta muito mais vida, mais força, nada é capaz de destruir.
E eu temo, quero fugir, sair correndo, mas meus músculos atrofiados,
paralisados... eles apenas são e tudo apenas bate, nada mais pulsa, sem
vibração. Na garganta, esse choro seco sufoca, sufoca, suf...
A vitrola tem o mesmo disco da última vez, a música que
tocava não toca mais, há o silêncio ecoando na presença da tua ausência. I’m
just a locomotive breath without the recall.