quinta-feira, 27 de julho de 2017

Branco

Me perguntaram dia desses: “o que te causa mais medo?” – Não sei. Respondi. Então pensei melhor.

Eu tenho medo desta folha branca na minha frente, tenho medo das palavras, tenho medo do instante de apertar uma tecla, a letra aparecer e tudo permanecer branco. Tenho medo de escrever qualquer pequena peça, qualquer pequena estrofe. Tenho medo de seguir adiante num plano literário diabólico ou algum conto perdido em meio a tanto...branco... Eu vejo tudo passando ao meu redor e é tudo cinza, vejo os dias acinzentados de uma forma tão colorida; entardecer cinzento, meio bizarro, meio gostoso, mas o céu azul me assombra. O céu azul faz parecer que tudo é normal, o céu azul é sempre o prelúdio do temporal. Não. Um segundo, o céu azul é a paz. Mentira, o céu azul é o tormento anti-poético da existência, mas a folha branca sempre é o pesadelo.

Na folha branca eu me escondo de mim mesmo, I’m digging a hole, I’m burying myself, I’m hiding. That’s it. All I want is a hole to bury myself. E continuo temendo tanto esse branco no papel. Talvez, se o papel fosse preto, também temeria o preto. Graça sem graça. Nesse meu branco só há ausência, alguns dizem que o branco é a mistura de todas as cores, não para mim. A mim, é apenas vazio....

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Prelúdio

Nesse mar, o qual mergulho, desprendo de mim a mim mesmo, me permito por um segundo ser tudo o que não sou e, fora todo o brilho, esse ser semelhante à areia macia e quente. Imerso, profundo, misto de desvario e torpor; excitação e desespero, essa linha minha, escrita por mim, apagada e borrada pelo tempo não se inscreve mais no amorfo psicodélico que sou, mistura multicolorida em escalas de cinza. Aquarela preto e branco. Filme antigo de roteiro péssimo, café amargo, mais ou menos, requentado e com borra.
Borra, essa, com a qual escrevo da total vacuidade alienante a qual estou prostrado. Cintilante maquiagem maquiavélica, distorção final de uma agudo lampejante. Sinthoma. Panacéia redundante, infeliz piscar de olhos surpreendente; coisa. No fundo d’água sinto algo tocando os pés, escamas gelatinosas, pedra, musgo. Sinto cheiro de cachoeira ao meio dia; ninguém se esconde em meio a lama. Ébrio, este âmago lhe convém servir como azeitonas no fundo d’um drink, gosto amargo, féu tremeluzante a escorrer entre os dedos.

Põe-se o sol. Adormeço. O sono pagão se aproxima. – Olá, Mefistófeles!