quinta-feira, 7 de março de 2019

Festa Pagã


Entre versos reversos componho desenhos incabíveis, procuro nas nuvens pela tua silhueta tão imaginada, na bruma da madrugada, procuro a nuance do teu rosto e o balançar dos teus cabelos. Essa fumaça do cigarro que se mistura à névoa, o quente e o frio, o frio da noite a encobrir meu corpo que tanto deseja o teu calor. A antítese de todo e qualquer paralelismo universal, pois na calmaria da névoa, a tua presença é o vento morno a tocar-me a tez.
Nos teus braços recolho as minhas armas, minhas máscaras, ponho-me diante de ti apenas eu e nada mais, no montante de tudo, sou o resultado dos teus amores, trazes à tona o melhor de mim, o melhor e o mais sincero. Nessa imensidão chamada oceano, observo a cascata febril e colorida, fruto da tua chegada e no coração, o ritmo doce e melodioso da tua existência em mim. E feliz me torno ante a tua presença, ante o toque das tuas mãos e o beijo quente que dedicas a me consumir.
Em uma cena pagã, ao brilho da noite, o teu vestido esvoaçante me hipnotiza mais do que já o faz; no matrimônio celebrado, bebemos, brindamos e celebramos ao som da natureza, ao fulgor de Gaya, tão verdejante, tão amorosa no acolhimento sublime do amor. Na melodia silenciosa e compassada da natureza, encontramos uníssonos o coração que bate metade em cada um de nós. A formação do um, união secreta do sangue que verte da pele e encontra os lábios, mistura-se o sabor, concatenação paradisíaca de tantos sentimentos. Corpo, alma e coração metamorfoseados: apenas um.
Enquanto a natureza dança ao redor, celebramos o ouro simbólico que encontramos no fundo dos olhos, a mina infinita de todas as riquezas do universo. No auge da celebração pagã, somos abençoados por tantos deuses e deusas, do dionisíaco às águas salgadas da rainha do mar; cortejamos nossas existências, votos tão simples, mas de tamanha complexidade; ritual de três dias, corpo, alma e águas!
Nem as mais tortuosas estradas desse mundo abalariam tamanha celebração, tamanho amor, profundidade infinita talhada diante do altar de pedras empilhadas. O mundo queima e teu vestido brilha na luz opaca da fogueira imaginária, teus olhos iluminados cintilam no ardor incrível da consumação do amor; meu coração bate disparado, vibração pacífica emanada pelo toque das tuas mãos. Eu, tu; doravante nós!
Os deuses dançam ao nosso redor e o chão transcende a felicidade da mãe terra, o céu abobadado cravejado de estrelas repousa suas mais secretas bênçãos. Almas amantes, caminhantes, andantes, errantes, nós dois na plena imensidão da estrada da vida. Meu peito vibra com o teu amor, o mundo vibra ao teu caminhar, o meu mundo vibra, minha alma pulsa à tua espera.
Seguro tuas mãos, teus dedos se entrelaçam aos meus! A natureza nos contempla, contempla o puro amor, assim somos, o puro amor, resistente como aço e puro como o ouro. Nos abraçamos no beijo febril, no lampejo do momento-já, dançamos a alegria da existência, a celebração do futuro infinito. Corações ardentes e, mais uma vez, a natureza celebra festiva nossa união.
Caminhamos, caminhamos e caminhamos ao ritmo da poesia que somos nós dois, embalamos o sono um do outro, entoando pequenos cantos inaudíveis. Nesse mundo tão nosso não há dor ou sofrimento, apenas amor, música, poesia e literatura, minha musa!