Entre
versos reversos componho desenhos incabíveis, procuro nas nuvens pela tua
silhueta tão imaginada, na bruma da madrugada, procuro a nuance do teu rosto e
o balançar dos teus cabelos. Essa fumaça do cigarro que se mistura à névoa, o
quente e o frio, o frio da noite a encobrir meu corpo que tanto deseja o teu
calor. A antítese de todo e qualquer paralelismo universal, pois na calmaria da
névoa, a tua presença é o vento morno a tocar-me a tez.
Nos
teus braços recolho as minhas armas, minhas máscaras, ponho-me diante de ti
apenas eu e nada mais, no montante de tudo, sou o resultado dos teus amores,
trazes à tona o melhor de mim, o melhor e o mais sincero. Nessa imensidão
chamada oceano, observo a cascata febril e colorida, fruto da tua chegada e no
coração, o ritmo doce e melodioso da tua existência em mim. E feliz me torno
ante a tua presença, ante o toque das tuas mãos e o beijo quente que dedicas a
me consumir.
Em
uma cena pagã, ao brilho da noite, o teu vestido esvoaçante me hipnotiza mais
do que já o faz; no matrimônio celebrado, bebemos, brindamos e celebramos ao
som da natureza, ao fulgor de Gaya, tão verdejante, tão amorosa no acolhimento
sublime do amor. Na melodia silenciosa e compassada da natureza, encontramos
uníssonos o coração que bate metade em cada um de nós. A formação do um, união
secreta do sangue que verte da pele e encontra os lábios, mistura-se o sabor,
concatenação paradisíaca de tantos sentimentos. Corpo, alma e coração
metamorfoseados: apenas um.
Enquanto
a natureza dança ao redor, celebramos o ouro simbólico que encontramos no fundo
dos olhos, a mina infinita de todas as riquezas do universo. No auge da
celebração pagã, somos abençoados por tantos deuses e deusas, do dionisíaco às
águas salgadas da rainha do mar; cortejamos nossas existências, votos tão
simples, mas de tamanha complexidade; ritual de três dias, corpo, alma e águas!
Nem
as mais tortuosas estradas desse mundo abalariam tamanha celebração, tamanho
amor, profundidade infinita talhada diante do altar de pedras empilhadas. O
mundo queima e teu vestido brilha na luz opaca da fogueira imaginária, teus
olhos iluminados cintilam no ardor incrível da consumação do amor; meu coração
bate disparado, vibração pacífica emanada pelo toque das tuas mãos. Eu, tu;
doravante nós!
Os
deuses dançam ao nosso redor e o chão transcende a felicidade da mãe terra, o
céu abobadado cravejado de estrelas repousa suas mais secretas bênçãos. Almas
amantes, caminhantes, andantes, errantes, nós dois na plena imensidão da
estrada da vida. Meu peito vibra com o teu amor, o mundo vibra ao teu caminhar,
o meu mundo vibra, minha alma pulsa à tua espera.
Seguro
tuas mãos, teus dedos se entrelaçam aos meus! A natureza nos contempla,
contempla o puro amor, assim somos, o puro amor, resistente como aço e puro
como o ouro. Nos abraçamos no beijo febril, no lampejo do momento-já, dançamos
a alegria da existência, a celebração do futuro infinito. Corações ardentes e,
mais uma vez, a natureza celebra festiva nossa união.
Caminhamos,
caminhamos e caminhamos ao ritmo da poesia que somos nós dois, embalamos o sono
um do outro, entoando pequenos cantos inaudíveis. Nesse mundo tão nosso não há
dor ou sofrimento, apenas amor, música, poesia e literatura, minha musa!