segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Notas De Um Fim De Noite


sento. projeto em mim a imagem de tantos desejos outrora desconhecidos. reparo cada momento como se fosse o primeiro de muitos. eu mudei. tudo mudou. e agora nem posso dizer que tudo mudou e nada mudou. coisas aconteceram e eu nem sei como começar a explicar. sirvo uma dose de vodca, acendo um cigarro. tragada profunda; sinto a fumaça invadindo meus pulmões, a chama do isqueiro se apaga. a bebida rola pela minha boca, escorrega pela minha garganta. sinto o cheiro aguçado do cigarro e do incenso. mistura doce de patchuli com nicotina. olho ao meu redor e sinto a mim mesmo como nunca sentira antes. sou eu mesmo e não tenho medo disso.
no auto falante, toca baixinho Queen. my fairy king. e eu lembro de quando te chamei de wine princess e, ironicamente, eu não bebia vinho. você, sim; eu bebia vodca. mas nossos gostos são parecidos, então não importa. você contava suas coisas e eu as minhas, compartilhávamos tudo desde o início, sentíamos alguma necessidade secreta e aguçada de simplesmente esmiuçarmos os detalhes do dia um do outro. eu imaginava a sua voz semi embriagada e o cheiro da fumaça subindo. imaginava a mesma luz amarela que embalou nossas conversas em noites tão recentes. pensava em nós dois em algum lugar tranquilo, à beira d’água ou algo parecido que tivesse areia para sujarmos os pés. pensava no seu jeito constante de falar do trabalho e o meu jeito curioso de esperar para dar alguma opinião útil.
você sempre falou bastante e eu sempre amei isso. você sempre me ouvia e eu também amava isso. gosto do jeito como nos enamoramos, nessa mistura meio vintage pós-moderna clássico rock n’ roll jazz alternativo darkwave. a nossa festa privada ouvindo músicas velhas, pulando de pijama e bebendo cerveja no gargalo, pois não queremos perder tempo enchendo copos. amo você desse jeito mesmo. sem mais e nem menos, sem querer mudar isso ou aquilo amo cada parte, cada jeito, cada mania. quando você me olha com carinha de brava e eu tenho vontade de enchê-la de beijos ou quando você sorri e eu me perco no seu olhar.
é. tudo mudou, mesmo. eu mudei, você me mudou. ou talvez, não. talvez eu sempre fora assim, você só despertou quem eu realmente sou, permitiu que eu me desfizesse das máscaras e nos tornássemos apenas um. a noite escura de março que o diga, em meio à mata e abaixo das estrelas. eu, você, nosso altar mágico e dois copos de cachaça. pés descalços, palavras sinceras e amor. muito amor!
gosto desse seu jeito doce, gosto do jeito como você adoça a minha vida!