sento.
projeto em mim a imagem de tantos desejos outrora desconhecidos. reparo cada
momento como se fosse o primeiro de muitos. eu mudei. tudo mudou. e agora nem
posso dizer que tudo mudou e nada mudou. coisas aconteceram e eu nem sei como
começar a explicar. sirvo uma dose de vodca, acendo um cigarro. tragada
profunda; sinto a fumaça invadindo meus pulmões, a chama do isqueiro se apaga.
a bebida rola pela minha boca, escorrega pela minha garganta. sinto o cheiro
aguçado do cigarro e do incenso. mistura doce de patchuli com nicotina. olho
ao meu redor e sinto a mim mesmo como nunca sentira antes. sou eu mesmo e não
tenho medo disso.
no
auto falante, toca baixinho Queen. my
fairy king. e eu lembro de quando te chamei de wine princess e,
ironicamente, eu não bebia vinho. você, sim; eu bebia vodca. mas nossos gostos
são parecidos, então não importa. você contava suas coisas e eu as minhas,
compartilhávamos tudo desde o início, sentíamos alguma necessidade secreta e
aguçada de simplesmente esmiuçarmos os detalhes do dia um do outro. eu
imaginava a sua voz semi embriagada e o cheiro da fumaça subindo. imaginava a
mesma luz amarela que embalou nossas conversas em noites tão recentes. pensava
em nós dois em algum lugar tranquilo, à beira d’água ou algo parecido que
tivesse areia para sujarmos os pés. pensava no seu jeito constante de falar do
trabalho e o meu jeito curioso de esperar para dar alguma opinião útil.
você
sempre falou bastante e eu sempre amei isso. você sempre me ouvia e eu também
amava isso. gosto do jeito como nos enamoramos, nessa mistura meio vintage
pós-moderna clássico rock n’ roll jazz alternativo darkwave. a nossa festa
privada ouvindo músicas velhas, pulando de pijama e bebendo cerveja no gargalo,
pois não queremos perder tempo enchendo copos. amo você desse jeito mesmo. sem
mais e nem menos, sem querer mudar isso ou aquilo amo cada parte, cada jeito,
cada mania. quando você me olha com carinha de brava e eu tenho vontade de
enchê-la de beijos ou quando você sorri e eu me perco no seu olhar.
é.
tudo mudou, mesmo. eu mudei, você me mudou. ou talvez, não. talvez eu sempre
fora assim, você só despertou quem eu realmente sou, permitiu que eu me
desfizesse das máscaras e nos tornássemos apenas um. a noite escura de março
que o diga, em meio à mata e abaixo das estrelas. eu, você, nosso altar mágico
e dois copos de cachaça. pés descalços, palavras sinceras e amor. muito amor!
gosto
desse seu jeito doce, gosto do jeito como você adoça a minha vida!