segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Caminho

    I’ve been wandering. Qual trajetória complacente reproduz em sua plenitude o bem estar característico da poesia? Esta história não é real, nem ficcional, ela transita entre planos; em uma relação binominal como “real/ficção”, esta história é exatamente a barra divisória, é o entre lugar. Representa fuga da realidade, representa a distância entre o objeto e o toque do espelho, um espelho que traduz, comunica e realiza sentidos, desfaz-se na plenitude dele mesmo qualquer objeto receoso de caracterização.

    In this mirror there is a whisper, an eternal whisper. Teu sussurro docemente traçado por toda a trajetória de duas vidas incomuns, unidas apenas pela constante distância. Caminhos opostos, formas traçadas abruptamente contrárias, delineadas em passeios voluptuosos pelos vales de lamúria, crise e desconsolo. Pois é, bem sei todas as características da existência e do imperativo categórico de todas as nossas noções. Porém deslizo o dedo pelas prateleiras e vejo traços poéticos, abro a porta e vejo o espelho ao fim do corredor, parede vazia, corredor pequeno de espaço dobrado.

    I walk in its direction, I touch it with the tip of my finger. Sinto o toque crescente do outro lado, embalo um tracejado imaginário, pensando na presença do outro lado. Então faz-se novamente presente um sussurro de magnífica amplitude, sussurro abrangente, constante. Não, não há grito capaz de abafá-lo, não há ruído em tamanha plenitude. O whisky desce pela garganta, adentra o estomago, traço quente, queimadura fatal alcoólica de pensamentos constantemente inebriados pelos traços ausentes da tua eterna presença.

    I wanna scream. Toda atitude embalsamada pelo árido seco da garganta a sussurrar. Sussurrar alguma poesia perdida em um canto de página, alguma lembrança, uma olhadela ao chão por pura falta de coragem. Timidez disfarçada de altivez. Máscara despedaçada, jogada em um canto qualquer de qualquer espaço; partículas do que fui sem o querer, partículas de mim mesmo, criadas em dissonância ao arpejo significativo de uma melodia meticulosamente desenhada.

    It’s been a while since I thought about you. Nunca é suficiente, sempre a sussurrar tua melodiosa voz, em teu melodioso canto. Em todas as formas, não há contratura linguística suficiente para descrever qualquer arroubo dissonante de uma consonância entre as coisas existentes, mas há, sim, uma fração abandonada na plenitude da poesia, um espaço idealizado, sonhado, cuidadosamente desenhado em um vácuo tremeluzente; entre lugar primordial de toda a nossa existência; hiato, distensão; ruptura.

    There’s a breach on the reality’s veil. E eu não me importo, coloco meus dedos nodosos, cansados e o rasgo. Desmonto ele à procura concreta do sussurro esvoaçante trazido pelo vento, mar, terra e rios. Traço pinturas invisíveis, indivisíveis, mistura pós-moderna de saudade com encantamento; desenho as notas simbólicas de tantas canções nunca cantadas, ritmos jamais ensaiados.

    Where does it take, this path? Ao mesmo tempo em que traceja o nada, permeia o tudo, a cisão completa e definitiva de todas a (im)possibilidades criadas e recriadas, permanente constituição abstrata de tantos sonhos. Se há alguma possibilidade de suspender o espaço tempo e habitar o eixo do paralelismo semântico, eis o momento, eis a elevação simbólica, ruptura (in)concreta das possibilidades. A terra segue seu rumo, o vento abriga o desejo. Entre a leveza e o peso, nossa poesia é o amalgamado dos sonhadores.