Ela caminhava à beira mar, enquanto
eu observava. Cuidava os movimentos do corpo, a água tocava-lhe as pernas,
subia pelas coxas e eu invejava cada gota de água, invejava o ar que lambia-lhe
as coxas, a areia que tocava os pés! Imaginava aquele corpo nu, desnudado por
mim, reluzente à luz parca que adentraria a janela. Eu esperava paciente por
todos aqueles momentos, ora em quando ela me olhava, buscava minha figura na
areia branca e eu a desnudava mais uma vez. Ela não sabia, mas eu a devorava
por todos os cantos da areia branca!
As horas correm, o tempo dava-nos a
impressão de uma profusão morna derramada sobre o ventre, o sol mormacento
dissipava as ilusões, abrandava os devaneios e eu mais uma vez a despia
constantemente do biquíni trançado na frente e pequeno embaixo. As nuvens
começavam a acinzentar-se, despiam o azul do céu e o tomavam em pleno gozo; e
gemiam. Gemiam trovoadas antecessoras do dilúvio; ela ainda caminhava à beira
mar e eu ainda a comia com os olhos. Outra vez ela me olhou e fez algum gesto,
como se me chamasse, como se me puxasse! Acendi um cigarro e levantei,
caminhava vagarosamente, pensava em uma forma de esconder o volume dentro da
bermuda.
Cada passo era uma tragada, enquanto
ela, estanque com os pés enterrados na areia, esperava eu chegar mais perto!
Mais 10 passos e estarei contigo, talvez 12. O que será que ela quer, perguntava-me em silêncio. Traguei outra vez o cigarro, a fumaça quente invadia os
pulmões, uma breve sensação de sufoco, eu movia a língua e passava sobre os
dentes. Eu estava faminto!
- Entra na água comigo? – Perguntou
calmamente, como se já soubesse a resposta sem nem mesmo precisar perguntar.
Segurou minha mão, olhou para o mar
como se fosse a primeira vez, um olhar cintilante, as águas já escuras,
adornadas do cinza do céu, estendiam seus dedos por sobre nossos pés.
Caminhávamos em busca da profundidade, queríamos o fundo e bem sabíamos
daquilo. Uma vez ela falou sobre mergulharmos no mais profundo dos rios; que se
fosse de mãos dadas comigo, iria até o máximo possível. Sabíamos e nos enamorávamos
da ideia, soava um misto aventura-sensual-gozo-ternura-não quero sair do teu
lado, mais ou menos isso, talvez mais e definitivamente não menos.
A água tocava a cintura, ela pulava
graciosamente as ondas, como se para não molhar o cabelo ou não deixar que a
água respingasse nos olhos e sujasse as lentes de contato! Eu não enxergava
quase nada, deixei os óculos dentro da bolsa, mas não fazia diferença; não
enxergo bem de longe e eu estava perto o suficiente para vê-la cintilar em uma
graciosidade única.
“O que você está pensando?”, ela
perguntou em tom gracejante. Não sei, respondi. Nadei ao redor dela, ela me
procurava com o olhar, dando a entender que estava se certificando que eu não
desapareceria. Por baixo d’água procurei a mão dela e a puxei para perto de
mim, me coloquei entre as pernas dela, eu não fazia mais questão de esconder o
volume e nem dar a entender não estar duro. Ela já sabia desde quando olhava
para mim, enquanto caminhava.
- Já? – Me perguntou com aquele
sorriso escondido no canto da boca.
- Desde quando te olhava lá
de longe!
Puxei mais forte o corpo dela, nem
notávamos que a maré nos empurrava de um lado para o outro. Subi a mão pelas
pernas; ela enroscava as pernas nas minhas costas. Eu procurava uma forma de me
desvencilhar do calção, colocar o biquíni mais para o lado. Meus dedos
deslizavam pela coxa dela em busca do sexo, em busca do calor. Ela suspirava
enquanto me beijava; toquei o sexo quente e ela me apertou, vasculhei com os
dedos, ela se acomodava no meu colo. Sentia as unhas dela nas minhas costas, a
boca quente engolindo a minha boca quente. Cheiro da água salgada, leve brisa!
Coloquei um dedo até o fundo e ela me apertou mais. A mão dela escorregava pelo
meu peito, procurava meu calção, me procurava duro naquele aperto dos corpos!
Liberdade. Ei-la. Segurou-me num
misto de força e carinho; tesão e fome. Puxei o biquíni, ela me engolia, eu
adentrava-lhe o corpo sedento, água fria; sexo quente. Ofegávamos, mexíamos
como se a maré nos embalasse, como se a água definisse nosso ritmo. Eu sentia
me faltar o chão, as ondas nos carregavam. Íamos cada vez mais fundo, cada vez
mais quente, cada vez melhor!
Ela quente, molhada; eu duro,
explodindo! “Goza junto comigo”, sussurrava. “Sempre”. Gozamos embalados pelas
ondas, carregados pelo mar! Abraçados, eu ainda dentro dela, latejando, ela
quente e eu sentia os músculos relaxando. “Vem”, eu falei ainda sem fôlego,
“vem comigo”. Demos as mãos e nadamos até o raso, saímos da água, o vento morno
aquecia os corpos: choveria em seguida e a praia estava deserta, não havia viva
alma conosco.
A segurei pela mão e puxei de leve
contra meu corpo, a água batia nos pés. Ela cintilava e eu também. Mais um
beijo sedento, mais vontade, vontade sempre! Desejo infindável. Fomos até a
toalha, a areia estava quente. Fumamos um cigarro, meio a meio, algo nosso,
apenas nosso - eu gosto de dividir o cigarro com ela.
Ela procurava em mim o calor do meu
corpo e eu procurava dela. Juntos cintilávamos, enquanto
a noite caia. Falávamos alguma coisa aleatória e eu desenhava alguma coisa
bonita na sua perna, ela passeava com a ponta dos dedos no meu braço! Havia
algo de elétrico no ar, como uma tempestade se formasse e desferisse raios e
trovoadas contra a terra, era bonito e singelo pensar na paisagem e ela estar
presente.
“Já pensou se o tempo parasse agora?
” – Perguntou baixinho, meio tímida, meio misteriosa.
“Eu poderia dizer que o tempo parou
no momento perfeito. ” – Respondi, enquanto ouvia o som das ondas quebrando.
Deitei apoiado nos cotovelos, ela se
apoiou de lado, sobre o braço, me olhava com olhos estelares e eu via nela
qualquer e todas razões possíveis para simplesmente sorrir. Ela me beijou –
breve toque entre os lábios – e ficou com o rosto bem em frente ao meu, me encarando,
eu sibilava mentalmente tantas coisas bonitas para dizer. A beijei de volta,
meus dedos procurando caminho entre os cabelos, minha boca junto à dela. O sol
se punha e fazíamos amor à beira mar.