quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Toca

O meu jeito tão torto e perdido, tão repleto de assimetrias e idiossincrasias, uma forma completamente desforme refletida em qualquer pedaço de lata, refletido na ponta de uma caneta que agora rabisca o papel. Confesso, nem mesmo ter me acostumado a isso, tão virtuoso e repleto de todos os infortúnios dela. Detesto a perfeição, mas a procuro como um viciado procura por todos os cantos da casa um cigarro esquecido ou um pacote de fumo e papel para enrolar. Caminho de um lado para o outro, canso as pernas nesta busca constante de uma inconstante impossível chamada perfeição. Crível é toda a minha especulação, mas são apenas rastros de mim mesmo procurados por todos os cantos da imensidão de mim.
Meus rastros tão incompletos, os procuro em arquivos e páginas em branco, pedaços esquecidos e largados de lado, ou escondidos entre tantas faces de tudo o que precisei ser, não importa. Nesse caminho eu continuo sem lenço e sem documento. Sigo flanando sem eira nem beira, ora trapeiro, ora flâneur, as vezes nem mesmo sei qual destino, se é que existe algum, ou melhor, sei não haver um destino certo, apenas vislumbro essa imensidão de nada e procuro em meio a isso descobrir um tudo. A longo prazo, a taxa de sobrevivência de todos cai para zero.
Nego-me a permanecer no nada, eu sobreponho com certa arrogância minha busca e necessidade do plasma, eu o quero; felizmente há morfina para a dor, pequenas doses, compassadas e doces. Doces como o beijo, o toque, o afago. Ouso beber desse veneno tão teu, afinal não existe veneno pior que a própria vida. Em anéis tão divagantes como só eles mesmo, eu permaneço enebriado pelo gosto doce da pele, ou da boca, ou da boca. Ou de tudo junto, não sei bem ao certo, como o ópio a me embriagar o corpo e a alma, sabores e mais sabores.
O relógio jaz sobre o criado mudo e se derrete, deforma, cinge o espaço/tempo, cria, recria. E eu uso e abuso, transformo tudo em literatura, redesenho, redefino, redobro e o tempo se perde como um mero porém nessa equação de tão só existência, no Alleine Zu Zweit, onde encontro tanta paz numa queda livre pela toca do coelho, então os cavalos voam e os animais usam roupas.
Da toca do coelho, eu procuro o fundo, ter a certeza do quão profunda ela é e assim me perco na imensidão,percebo o brilho, mas não é ofuscante e nem assustador, é apenas um convite a mais. E procuro o plasma a escorrer pelo corpo, meus dedos, minha boca, meu corpo, desejo e o faço escorrer como seiva de uma árvore, néctar de uma flor. Flores pintadas dentro de um cesto vermelho, ou sem o cesto, não faz diferença, me desfaço do cesto e mergulho na imensidão profunda da torrente quente; me encontro, aliás, bem no fundo. O reflexo no espelho se faz tão claro como a lua se banhando nas águas geladas do mar no inverno. E sinto o cheiro de vida, me sinto pulsante como uma alma a vibrar em pleno fôlego.

Entre tantas linhas e entrelinhas sou eu mesmo, esse sujeito tão torto e assimétrico dado à angústia de encontrar a perfeição tão odiada, no entanto não me enfastio da busca, tomo notas, faço anotações, divago. Durmo.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Aquela história perdida de anos atrás.

Eu lembro das tuas mãos pelo meu corpo,
O teu corpo resvalando nas minhas mãos.
Minhas pernas entre as tuas, tuas unhas me arranhando, tua boca me engolindo.
Sempre quis aquele beijo que te roubei no corredor,
Te jogar na parede foi meu presente de aniversário e todos cantavam parabéns.
Tua voz doce sussurrando desejo e meu corpo vertendo tesão.
Beijo doce de menina mimada, mão tesa de insânia volúpia.
Tuas pernas abraçando meus quadris e tuas costas roçando na parede.
Enquanto todos cantavam parabéns, teu sexo engolia o meu.
Teu gemido doce e enjoado, voz fina pedindo mais.
Meu gozo quente escorrendo pelas tuas pernas e tua calcinha lambuzada.
Nos comemos na parede e todos cantavam parabéns.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Parede

Algumas razões simplesmente pressupõem outros aspectos, mais profundos, prazerosos, excitantes. A suposição recai no percorrer dos cantos escuros. Mas a noite gelada instiga outros torpores, outros vapores, assim como o vapor que sai pela boca, o vapor da baforada do cigarro enquanto o vento gelado chamusca a pele quente.
Às voltas pelas calçadas, um canto escuro, um holofote e a sensação de ser observado, pensamentos fluem melhor com o frio, audacioso em todas as lubricidades, o cérebro aturdido por sequências contínuas de pensamentos. No torpor das ideias, encontro o corpo, a parede; dominado pela presença provocante; teu corpo apoiado na parede, o vento frio, os dedos gelados. Tua boca sob a minha, no canto escuro tuas unhas que arranham minha nuca.
Minhas mãos brancas passeando entre tuas coxas, procurando o calor do teu sexo, tuas pernas traçando o caminho aos meus dedos. Tuas mãos respondem meus sentidos aguçados, percorrem minhas costas entre calafrios e arrepios. A boca procurando meu pescoço, meus dedos procurando os lábios entre as pernas quentes; o arroubo dos dedos, a pressão, os suspiros.
Empurro a mão, percorro a calça, o sexo molhado pulsa na mesma sintonia do meu roçando nas tuas pernas, em meus dedos, teu sexo, escravo dos meus delírios, tuas mãos apertam minhas costas, puxam meu corpo de encontro ao teu. Sufoco aos beijos os suspiros, mexo rápido, forte. As mãos desafivelam meu cinto, entre as camadas de roupa, me afasta das tuas pernas e me procura: duro, pulsando.
Tuas pernas tremem, o gozo se aproxima, a respiração cerrada acumula força, te acaricio encharcada de todos os fluídos do tesão congelado, derrama sobre meus dedos o gozo quente, fervoroso, seguro tuas costas enquanto as pernas tremem. Gozo ao sentir meus dedos molhados, na tua mão verte o sêmen quente, ímpio. Entre teus dedos jazia latejando às últimas gotas meu sexo exaurido.
Lentamente tirei a mão de dentro das tuas calças, lambi os dedos, deleitando-me ao sabor agridoce do sexo. Sequei os dedos, limpaste a mão. No mesmo canto sentamos, um cigarro aceso, o vento não estava mais tão gelado, nem a noite, nem nada, tudo era mais claro agora. Seguimos com a mesma conversa. Caminhamos de volta.