terça-feira, 3 de maio de 2016

Everything Dies

Alguma coisa morreu.
Sempre morre alguma coisa, mas normalmente não sei dizer o que é. No fim, sempre morre alguma coisa em mim, sempre algo se desfaz e eu sufoco tanto amor no silêncio dos gritos desesperados por socorro.
Recebo uma pequena migalha como um banquete, sinto em mim toda a alegria do mundo para então tudo evanescer de novo e eu ficar perdido na escuridão. Pego uma caixa de lembranças e reviro cada uma delas, procuro por qualquer cheiro, qualquer sensação, qualquer dor que traga de volta todo aquele encanto, toda a alegria de outrora. No fim, não há nada além de uma imensidão repleta de vazio. O vazio daquele adeus que não demos, do até logo onde o “logo” nunca chega.
Então eu sirvo mais uma dose desse whisky amargo, acendo a chama e trago a fumaça a queimar a garganta; cheiro ocre, licor avinagrado, vinho tinto seco azedo tosco, cheiro de uvas podres, morangos mofados, champagne sem gás. Vinil arranhado, faixa repetida, beijo extraviado. Um dia desses, sentado à soleira, eu lia calmamente aquele livro antigo, sentia o cheiro do café recém passado, o gosto de tantos planos não realizados. Vomitei dolorido o peso da saudade de uma presença tão ausente.
Pensei em correr, pensei em deitar no chão e chorar, pensei em desistir de tudo e compreender que nada mais faz sentido, mas compreender não é aceitar e eu não consigo aceitar; aceitação não é máxima alguma na minha vida, sempre falei, eu sou a eterna negação, dos cinco estágios da dor, eu nunca sai da negação, sempre sucumbi à completa e irrevogável negação.

Então eu espero aqui, caminhando em vão pela rua gelada, vou esperar sempre o telefone tocar, te ouvir dizer “estou voltando”. Só assim não negarei mais.

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