quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

(psic) Análise

As vezes, um ser evoluído sentado no divã com um cigarro entre os dedos, uma artéria pulsante no pescoço e uma idéia emergindo aos fulgores da chama. Um senhor bem vestido tragando a vida e caminhando pela mente.

Uma voz que é misto de frieza e simpatia, como uma gravação, vomitando palavras em um silêncio que por vezes dói aos ouvidos, alguém que por minutos tenta invadir a mente e trazer à tona as mais funestas e desvairadas lembranças. Um distúrbio mental que o inquieta, uma anomalia que simplesmente desperta pânico. A recompensa: Chegar em casa, sentar no sofá, pegar uma bebida e fumar mais um cigarro.

As idéias são como pregos que são forçados contra o cérebro, perfurando o crânio, atravessando paredes de ossos e se alojando na massa cinzenta que escorre pela têmpora, pensamentos e palavras são apenas um líquido viscoso que escorre pela vida.

“há um quadro na parede, é uma figura funérea, uma moça, pálida sob uma fraca luz que sob um leito de flores dorme o sono eterno, alva pele. Em pose como a lua por noite embalsamada que mais parecia um anjo entre as nuvens com os seios a palpitar sob as formas nuas sobre o leito. Quatorze versos que desenham o quadro, conduzido por pinceladas decassílabas de um gênio de outrora que encontra-se num lugar melhor do que nós. Há um outro quadro, o quadro da pobre, apontando para o chão, que dele riu, mesmo sob seu clamor para que não o fizesse.”

Parece um escárnio de amor e morte, pois a desgraçada era coxa. E nenhuma nota de alegria se calou por seu passamento, tampouco pelo do pobre que desenhava a morta, mas tanto faz, todos morreram com a cabeça cortada. E o que pintou a mulher que apontava para o chão morreu surdo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olha dessa vez vc superou tudo,fiquei sem palavras,genial!Por isso sou fã né azevedinho

Juli disse...

Concordo com a Re! Mas ainda que no início me lembrasse de Azevedo, o momento e a descrição dos quadros me fizeram imaginar uma sala como a do poema do Corvo, de Poe (ilustrado pelos Simpsons hehe).
Maravilhoso conto! Tão bom que dá até uma sensação de angústia.

Tetê Dutra disse...

Dramático, ótimo! Fiquei meio em suspense, cono quem lê um livro de Agatha Christie ou Oscar Wilde, esperando um desfecho fantástico... E foi!
Concordo: Superou-se e, como estou pensando em fazer análise, pelo menos escolherei um analista simpático, cautelosamente, pra não ligar os fatos.

Tetê Dutra disse...

desculpe-me mas fiz uma PEQUENA troca de nomes de autores. Onde escrevi Oscar Wilde leia.. Morris West. Desculpe-me!