Divergentes feitos que
outrora avisam o prelúdio do nada. Os satisfeitos simplesmente se deleitam aos
prazeres do pedaço de carne sangrando sobre o prato. Os adúlteros se embriagam
em luxúria. Os afoitos simplesmente esquecem todos os rituais e se encontram,
agora, despidos frente ao nada.
Adentrando o recinto;
nada além de informações equivocadas, apenas um amontoado de papéis há muito
deixados de lado. Uma sala sombria, uma mesa alocada exatamente no centro.
Poeira e teias de aranha adornam as paredes e remetem a outro mundo. Alívio. Talvez
esse lugar seja o lar de todas as angústias, todas trancafiadas em uma sala
empoeirada e repleta de bolor.
Um velho pedaço de
papel desdobrado em vidas. Da janela é possível avistar as montanhas e um lago
mais ao fundo. Na verdade, toda a visão é ambígua e cinzenta, a única sensação
é a de estar imerso em um líquido cinzento e viscoso – assim como o sangue. O
crepúsculo encena mais uma vez seu espetáculo sinestético, o frio apenas se
apodera do que lhe é seu por direito. Toda a sensação é, em devaneios,
translocada e brevemente pausada, a visão é pálida e o corpo irreconhecível.
A grande
impossibilidade de todas as possibilidades se refaz dentro de uma gaveta trancada,
não se sabe ao certo nada de materialmente existencial, porém a chave presa ao
pescoço abrevia a curiosidade. Lentamente a gaveta é aberta.
O céu já encontra-se
dividido entre o claro e o escuro, o sol esconde-se nas montanhas e a lua
empalidece o retrato. O móvel velho agora é iluminado por um velho candelabro,
agora aceso. Seria impossível perceber cada detalhe presente na pequena sala.
Ao cair da noite o cheiro de jasmin expande todos os seus limites, a visão
cinzenta de outrora torna-se límpida e clara. Jaz, então, a paz.
Seria presunção em
demasia afirmar o poder acalentador do luar e da noite, entretanto os braços da
noite são plenamente capazes de satisfazer qualquer dor. Entregar-se aos braços
d’uma bela dama, praticar o cortejo e empalidecer ao som estridente dos gemidos
e aceitar a dor de braços abertos, como uma velha amiga.
Com os olhos atônitos à
gaveta, apenas um envelope volumoso e um tinteiro. As páginas vazias e
amareladas pelo tempo. O cenário é insólito à noite. As páginas brancas
abreviam a esperança, mas carecem de escritura. Certamente o escrito pertinente
encontra-se lido e o tempo encontra-se deslocado.
Amanhece o dia e tudo
torna-se, novamente, nefasto, não há mais espaço para o conforto, apenas o êxtase
de, algum dia, ter sido parte da história do lugar cujo retorno não há.
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