Mais uma vez, outro dia, outra
hora, outra aurora, num momento tudo se dissipa na imensidão sinestética,
fortaleza repentina de toda a lucidez. O morno abraço desdobrando-se ad infinitum,
uma palavra sussurrada, uma palavra cantada, doce canto, encanto eterno repentino,
do cinza-escuro às matizes coloridas refletidas em olhares e gestos. Gesto,
jeito justo num piscar de olhos.
Embriago-me ao som da voz, doce
encanto, o teu canto nos milhares de gestos justos intercalados aos beijos e
jeitos. Não mais dou-me ao luxo de pensamentos vazios e errantes; embelezo
versos às batidas retumbantes desse encontro. E agora estou aqui debruçado sobre
a mesma ponte de outrora, onde tudo mudou, mudou na beleza infinita do rio
constantemente mutável, na instabilidade das razões e sensibilidades dadas à
alma. Mudei da fisionomia aos anseios, mesmo a plena escuridão da noite agora é
tocada pelo belo brilho da lua.
Houve um mundo sombrio e
melancólico, já levado pelas águas do rio. Respiro, meu corpo se inunda com o
ar fresco da madrugada, a lua já brilha mais que o sol; o vinho embala brindes
e despoja a tristeza, a poesia me embala sorrisos e boas aventuranças. Na
estrada sigo andando, mãos dadas, taças cheias, risos infantis. Eis, na efêmera
existência dos corpos, quantas vezes o espírito fora encontrado, reencontrado? Força pura a emergir ao palacete da boa prosa, da boa poesia.
Ao lado, lado a lado, o vento
frio bate no rosto, intenso, imenso, um corpo aquecendo o outro, a noite mostra
nas entrelinhas das nuvens o aconchego e a paz, a suave neblina, o calor
aconchegante, o império dos amores. A cadência dos passos, o rio reflete agora
a imagem completa, atravessamos a ponte, bebemos do vinho. O reflexo nunca mais
será o mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário