Eu herdei um jarro de
cachaça cheio de butiás, mas ainda preciso completar com uma boa cachaça, tão
licoroso, doce com residual amargo. Posso sentir no palato o gosto suave da
bebida e o residual ocre no fundo da língua. Herdei algumas fotos em álbuns de
família e ficou um vazio tão estranho. Você partiu e eu fiquei me perguntando o
que houve de verdade, não é possível, surreal demais. Mas foi assim e nada
tenho mais a fazer, senão lamentar tantos anos sem poder ter te visto.
Me lembro
perfeitamente, eu voltei meio bêbado, meio são de uma festa, tomei um drink
chamado disco voador e eu precisava chupar um limão, mas tinha sol e eu fiquei
com medo. Depois bebi algumas cervejas, meu amigo estava discotecando e lembro
de ter tocado alguns funks estranhos e, mais estranho ainda, eu ter dançado
tudo aquilo. Era um sábado comum à guisa
da rotina. E eu lembro ter bebido tanto, eram tempos caóticos e completamente
deslocados, em poucas horas, foram quase dois maços de cigarro.
Lembro perfeitamente do
meu estado embriagado ao chegar em casa, peguei o telefone e reparei em algumas
ligações muito incomuns, retornei. Minha avó falava aos prantos do teu mal
estar e eu fiquei apavorado. Outras ligações. Meu pânico completo, desespero e
fiquei sóbrio instantaneamente.
Movi mundos e fundos e
desloquei tantas coisas, tantas coisas na esperança de te ver por uma última
vez. Ironia, você era mais novo que meu próprio pai, não poderia acontecer
isso, era a sua função ficar no lugar dele caso acontecesse alguma coisa, não
era justo e o pânico era imenso. As refeições indigestas, nem o cigarro tinha
gosto agradável mais. Tudo estava estranho, desmoronando aos poucos, logo você,
forte feito um cavalo de raça, por quê?
Rumo ao terceiro ano
sem a tua presença, mesmo que completamente ausente, estranho como você representava
tanto e de uma forma completamente incompreensível, invisível, você se foi e o
caos reinou, sem ordem e nem nada, apenas tudo caótico. Inclusive a saudade.
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