quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Corpo, Chuva e Pensamento

Devido à continuidade de ações mal ordenadas, concluo mais uma vez que o fator humano sempre corresponde a um atraso no desenvolvimento de ações. Os mesmos erros tornam a repetir-se e nada é feito para corrigi-los, não julgo sob uma perspectiva externa tais fatores, contudo não me calo frente a tantas conjecturas repletas de falhas abusivas.
Num repente tudo muda, raios e trovões rompem os céus, não pela primeira vez eu percebo a proximidade de uma incrível tempestade, porém prevejo no clarão dos relâmpagos abrangentes histórias convertidas em pseudônimos, vejo também a relevância natural de fatos e acontecimentos efêmeros. Na posição de observador debruçado na janela, analiso cada decorrência do vento e da chuva, seja ela tênue, seja ela extrema, tangencio por vez a congruência estabelecida entre vento e trovão, entre relâmpago e chuva: admiro a força da natureza sobre a vida humana e encantado percebo o pleno poder dela sobre nós mortais.
Como fere tanta água, que tamanho poder destrutivo possui tal fenômeno a ponto de em poucas horas ruir o levou anos para alcançar sua plenitude, tão indignos somos desse topo de cadeia alimentar, tão ínfimos nós humanos somos, mas a crítica não se encontra na falta de poder, mas sim no excesso, como grandes pensadores já afirmaram “o que um homem com muito poder quer? Mais poder.”.
De volta ao devaneio desenfreado frente à tempestade, torno-me um simples admirador como outrora havia sido, sinto os respingos em mim adentrado a janela, molhando o chão da casa, aquelas simples gotas geladas fundidas ao vento caindo no chão, tão precisas como os mais perfeitos acordes do Led Zeppelin, meu pensamento fluía cada vez mais longínquo: eu sentia a plenitude da natureza enquanto lembrava fatos tão precisos e irrelevantes. Como momentos felizes são breves e como o costume leva ao afastamento, como a convivência prolongada torna as pessoas distantes, como a chuva demora a passar. Como a chuva demora a passar, há tempo ouço o barulho estridente dos trovões, a janela já está fechada, pois o vento invade a casa e com ele traz a chuva. Tanta ênfase à chuva, a chuva que aqui me é assaz aprazível, para outros não é tão boa assim, como esse constante paradoxo desencadeia pensamentos.
Pensando na delicadeza que é toda essa constante chamada, vida, enalteço sempre a beleza e a alegria das pequenas coisas, de forma básica, explica-se que ninguém veio ao mundo a fim de atingir total felicidade, viemos ter momentos de felicidade por isso tais momentos devem ser aproveitados ao máximo. O cheiro do café passando, o cheiro do pão torrando, aquele aroma da manteiga derretendo no pão torrado, para um dia chuvoso como esse não existe combinação melhor, contudo, os pensamentos não se afastam, aquelas velhas reflexões e velhas memórias que ousam adentrar meus pensamentos persistem em ali se acomodar.
Pensei no meu constante julgamento de certo e errado e das minhas plenas constatações sobre atitudes próximas a mim, que trazem toda essa tempestade exterior pra dentro de mim, confundindo minha mente e rebuscando minhas decisões racionais, contudo não vejo meio óbvio de apenas aceitar como se simplesmente “o melhor que a vida pode me proporcionar” como diria Voltaire em seu livro Cândido e o otimismo, não vejo melhoras e não vejo necessidade de tais erros, foi a tentativa de recomeçar, e por que recomeçar com os mesmos erros? Aquelas velhas atitudes desobedientes e sem requinte visionário, sentar e esperar com que a chuva lhe traga as boas notícias nunca funcionou. Vejo freqüentemente o quando podemos estar enganados frente a qualquer perspectiva infundada, todavia, doravante diante de tais idéias que a chuva me trouxe, revejo perspectivas e sei que de alguma forma isso não é mau sinal, “impor a dúvida até o limite” (DESCARTES, 1637). A chuva sempre impõe a dúvida até o limite, então, as estruturas cedem, as composições oblíquas caem por terra e o que nos resta? A verdade, porém, infelizmente sempre o que resta é pouco, pois poucas são as verdades que nossos olhos são capazes de enxergar, já que a vida não é possível frente à realidade.

5 comentários:

Anônimo disse...

Você é um excelente escritor!

Ana Al Izdihar disse...

A maneira como a Natureza faz eco me você é o que mais me fascina. Uma perspectiva tão ampla do mundo, com uma expressão verbal tão clara, leve e ao mesmo tempo forte... como os trovões!

mhiato disse...

a realidade se afasta demais da vida. às vezes, eu penso que vivemos mesmo é uma "vida inventada" como diria Clarice. Por isso, a ficção. Teu texto abru meus pensamentos pra começar o meu texto hoje. Obrigada pelo incentivo :*

† Fred 69 disse...

[Criei] um Mundo Secundário no qual sua mente pode entrar. Dentro dele, tudo o que ele relatar é "verdade": está de acordo com as leis daquele mundo. Portanto, acreditamos enquanto estamos, por assim dizer, do lado de dentro.(TOLKIEN).

seria vício demais eu fazer essa citação, mi?

Unknown disse...

Mano, muito bom o texto, a reflexão NATUREZA x SER HUMANO nos traz a certeza de que somos minusculos perante a mãe natureza.
Esse texto com certeza abriu a mente de muitas pessoas.
Parabéns

Abração