quinta-feira, 24 de março de 2022

hoping that you'd stay.

Não me atenho às ideias, minha segurança está nas palavras, um berço confortável onde me desnudo e me exponho entre o amálgama sintático das palavras. Tão comum perder-se em si mesmo diante de um mundo repleto de imperativos e descompassos, o lugar da palavra é confortável e a fala sempre é uma forma terapêutica. Minhas reflexões não tem um referencial teórico claro, tampouco específico, mergulho em ideias díspares e tento coloca-las no papel como se fossem uma coisa só. Perfeito dialogismo que me permite percorrer todo o tipo de discurso. Claramente, nem sempre conseguiria expor meus pensamentos de forma clara, não fosse o texto escrito, não fosse esse elemento tão lúbrico dos dias. Sempre retorno ao desejo, sempre vou ao encontro dele.

Compreendo as medidas complexas impostas a mim mesmo, por mim mesmo. Não penso no espaço como uma série de interditos; apenas vejo o sistema ao meu redor tentando o tempo inteiro me enganar de alguma forma. Por isso a literatura é confortável, por isso ela é mágica, é o ponto de fuga de uma realidade que, ao ser observada pela janela, é tão repleta de cinza e tão cheia de asfalto. Há um gosto cinza nesse mundo. Esse nosso mundo que, de forma tão lúgubre, foi construído com palavras.

Não se engane ao ler minhas palavras, não padeço da melancolia sistêmica imposta por nosso mundo que caminha em direção à ruína. Não, não. Apenas sinto no afeto a salvação para o nosso caos contemporâneo. Ademais, as formas breves sempre me fizeram bem, apenas despejo sobre essa folha branca a minha maior riqueza, meu verdadeiro capital: minhas palavras.

As vezes fico tateando os cantos do meu inconsciente, procurando imagens que façam sentido nesse mundo
contemporâneo, apego-me às sutilezas e às belezas da vida, quero sempre mais, quero sempre ir ao encontro do plasma, quero o propósito único de não ter propósito e nem significado, nem quero me prender à agonia do sentido; humildemente confesso minha grande falha, pois procuro sentido em todos os cantos, todas as horas e todos os momentos. Mas, a bem da verdade, eu não quero falar nada disso, não é esse o assunto, mas confesso que me perdi entre as palavras desde a primeira linha. Gostaria de escrever sobre o desejo, esse era meu projeto inicial; desejo e amor, amor e desejo. Coisas desse tipo. Queria explicar a beleza desse retrato que tenho gravado na minha retina, essa imagem que me inspira e torna os dias mais bonitos.

Sim, essa é uma expressão romântica, não vou mentir. Padeço do romantismo e sou escravo dele, minhas ideias simplesmente circulam e a razão fica de lado, escravizado pelo coração que bate mais forte a cada instante que te vejo, cada segundo faz com que essa imagem se torne ainda mais nítida, faz-me querer te tocar ainda mais, envolver-te nos meus braços e apenas esperar o tempo passar, perder-me no tempo é sempre o mais ambicioso dos sonhos. Dia desses, me peguei imaginando enquanto me perdia em linhas textuais, linhas sexuais, linhas do corpo, formas e (des)formas enquanto ouvia ao fundo os teus gemidos e teus suspiros.

Dedos lambuzados, o teu gosto vertendo pelo corpo e eu desejando cada vez mais. Respiro fundo, sinto-me liberto. Minha hipótese é breve, pois justamente na tua imagem é que repouso meu desejo e derramo meu líquido, minhas formas imaginárias em fusão com as tuas formas imaginárias num êxtase infindável. É, os dias são diferentes e esse tempo tem sabor de saudade.

Minhas divagações sempre seguem por lugares estranhos, pois agora te imagino nos meus braços, enquanto fumo meu cigarro e observo as paredes do quarto; permaneço conjecturando algumas ideias aleatórias, pois tenho vontade de falar sem parar, mesmo quando eu não consigo. Esse efeito mimético vislumbrado em um quadro que agora pende na parede, um quadro nosso, nossos dedos entrelaçados, nossas formas transformadas em óleo sobre a tela diante dos meus olhos. Sinto cheiro de flores na fumaça dissipada da imagem.


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