Teu rosto brilhava no
reflexo do fio de luz que entrava pela janela. O ocaso distendia seus
tentáculos e a bruma tomava conta do lado de fora. Eis, então, defronte ao
espelho tua pele reluzia o encanto dos vapores. Teus lábios mergulhavam de vez
em vez na taça de vinho. Em algum nível obscuro camuflavas um olhar tímido e
cruel.
Vestias uma fina pele,
mesmo com a noite morna, não deixaste de lado a pele. Sentado do outro lado do
quarto, eu te observava com um riso debochado e sádico. De fato fui maldoso ao
te amarrar próxima a cama e sentar-me numa poltrona mais afastada, a bem da
verdade, te observar me fazia tomado por deliciosos arrepios.
Há duas horas teu corpo
sofria com os meus toques e tua libido encalusurada por amarras de seda, sofria
com o efeito do mesmo veneno. Teu sexo fustigado pelos meus dedos jazia
embebido em néctar enquanto tuas pernas tinham espasmos a cada toque dos meus
dedos. E eu voltava a sentar e te observar.
Eis que me ajoelho ao
teu lado, beijo de leve tua boca enquanto minha mão sobe pelas tuas pernas.
Mordo teu lábio, a mão sobe pela tua perna...Teus seios expostos sob a pele,
mordo; minha mão toca teu sexo molhado, brinco com os dedos. Sinto tua
respiração forte e teu sexo pulsando. Volto pra tua boca, enfio os dedos entre
as tuas pernas... te beijo enquanto meus dedos se contorcem dentro de ti.
Paro.
Encho a boca com um
gole de vinho, te beijo de novo, o vinho escorre pela tua boca e mancha o teu
corpo. Levanto e saio.
“Vais suportar meus
devaneios por uma vida inteira?” – “Sim.” Tu me respondes.
Surrar-te nos meus
amores, te morder em desvarios, tocar teu sexo como quem profana o sagrado.
Deleitar-me com teu gozo e afoito te tomar nos braços como um déspota piedoso e
dono dos teus amores. Despontas na dor o rubro do teu sangue na tua pele
pálida.
Então te entregas ao
teu dono a adentrar teu corpo em fálico amor que vibra uníssone ao pulsar do
próprio coração. Eis teu sexo a me engolir, faminto, molhado, sedento... Fodo
como quem procura a fonte da vida. Tuas mãos amarradas ainda te impedem de
qualquer movimento, te invado como uma explosão de calores.
Na única reação capaz
de esboçares “Sou tua escrava”, replico em tom quase inaudível “Sou teu dono”.
Permita-me te contar
uma história, nem sempre fui o martelo, já fui bigorna, como diria Fausto, “na
vida ou tu és a bigorna ou o martelo”, e eu fui bigorna. Lembro-me, estremeci
ante a face debochada e impiedosa, calei-me entre tapadas e chibatadas.
A mão pesava sobre meu
corpo dilacerado em arranhões, as marcas dos dentes formavam o mais belo e
cruel mosaico. Em um trocar de segundos, ela se transformara na mais impiedosa
das amantes. Carne, unhas; os cabelos brilhavam em ardentes chamas voluptuosas.
Ao me tomar com os lábios, mantinha a certeza de que não me faltassem arranhões
pelas pernas. Amarrado, assim como estás agora, eu era tomado pelos golpes mais
amorosamente desferidos.
Eu poderia tremer
frente ao açoite, mas não, eu, ultra-sensual libertino, estava entregue às mãos
da minha impiedosa Vênus. O gozo volúvel tomou conta de nós dois, incontrolados
e sem razão, essa foi a forma como ficamos eu e ela.
- Por qual razão fazes
isso, desgraçado? Me consome em delírios com as tuas palavras, tuas
libertinagens.
- Não percebes que falo
de ti, minha musa? Não percebes que foste a única a completar-me nos mais
perturbadores delírios?
Tuas mãos imóveis foram
desamarradas, teus braços marcados pendiam trêmulos como teu corpo. Te levei no
colo até a cama, depositei teu corpo sobre os lençóis aquecidos, bebi outro
gole de vinho, beijei tua boca enquanto minha mão brincava entre as tuas pernas
molhadas. Mordendo tua boca, penetrei teu sexo. Era fogo e gasolina, teu sexo
quente me abraçava como uma amante doentia.
Eu sentia tuas unhas
marcando as minhas costas, procuravas o meu pescoço, minha boca, mordias...
Trepávamos como o mesmo furor da jovialidade, o que mudara foram as marcas
deixadas por nós em nossos corpos, eternas lembranças.
O gozo jorrou quente,
queimando tudo pelo caminho, teu corpo embebido com meu líquido vibrava junto
ao meu. Um beijo, um olhar. O mesmo carinho pervertido dos perturbadores
amores.
Frederico Fagundes e Jessica Pinheiro.
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