quarta-feira, 13 de julho de 2022

Lucet cicut stellas

     Ela caminhava à beira mar, enquanto eu observava. Cuidava os movimentos do corpo, a água tocava-lhe as pernas, subia pelas coxas e eu invejava cada gota de água, invejava o ar que lambia-lhe as coxas, a areia que tocava os pés! Imaginava aquele corpo nu, desnudado por mim, reluzente à luz parca que adentraria a janela. Eu esperava paciente por todos aqueles momentos, ora em quando ela me olhava, buscava minha figura na areia branca e eu a desnudava mais uma vez. Ela não sabia, mas eu a devorava por todos os cantos da areia branca!

As horas correm, o tempo dava-nos a impressão de uma profusão morna derramada sobre o ventre, o sol mormacento dissipava as ilusões, abrandava os devaneios e eu mais uma vez a despia constantemente do biquíni trançado na frente e pequeno embaixo. As nuvens começavam a acinzentar-se, despiam o azul do céu e o tomavam em pleno gozo; e gemiam. Gemiam trovoadas antecessoras do dilúvio; ela ainda caminhava à beira mar e eu ainda a comia com os olhos. Outra vez ela me olhou e fez algum gesto, como se me chamasse, como se me puxasse! Acendi um cigarro e levantei, caminhava vagarosamente, pensava em uma forma de esconder o volume dentro da bermuda.

Cada passo era uma tragada, enquanto ela, estanque com os pés enterrados na areia, esperava eu chegar mais perto! Mais 10 passos e estarei contigo, talvez 12. O que será que ela quer, perguntava-me em silêncio. Traguei outra vez o cigarro, a fumaça quente invadia os pulmões, uma breve sensação de sufoco, eu movia a língua e passava sobre os dentes. Eu estava faminto!

- Entra na água comigo? – Perguntou calmamente, como se já soubesse a resposta sem nem mesmo precisar perguntar.

Segurou minha mão, olhou para o mar como se fosse a primeira vez, um olhar cintilante, as águas já escuras, adornadas do cinza do céu, estendiam seus dedos por sobre nossos pés. Caminhávamos em busca da profundidade, queríamos o fundo e bem sabíamos daquilo. Uma vez ela falou sobre mergulharmos no mais profundo dos rios; que se fosse de mãos dadas comigo, iria até o máximo possível. Sabíamos e nos enamorávamos da ideia, soava um misto aventura-sensual-gozo-ternura-não quero sair do teu lado, mais ou menos isso, talvez mais e definitivamente não menos.

A água tocava a cintura, ela pulava graciosamente as ondas, como se para não molhar o cabelo ou não deixar que a água respingasse nos olhos e sujasse as lentes de contato! Eu não enxergava quase nada, deixei os óculos dentro da bolsa, mas não fazia diferença; não enxergo bem de longe e eu estava perto o suficiente para vê-la cintilar em uma graciosidade única.

“O que você está pensando?”, ela perguntou em tom gracejante. Não sei, respondi. Nadei ao redor dela, ela me procurava com o olhar, dando a entender que estava se certificando que eu não desapareceria. Por baixo d’água procurei a mão dela e a puxei para perto de mim, me coloquei entre as pernas dela, eu não fazia mais questão de esconder o volume e nem dar a entender não estar duro. Ela já sabia desde quando olhava para mim, enquanto caminhava.

- Já? – Me perguntou com aquele sorriso escondido no canto da boca.

- Desde quando te olhava lá de longe!

Puxei mais forte o corpo dela, nem notávamos que a maré nos empurrava de um lado para o outro. Subi a mão pelas pernas; ela enroscava as pernas nas minhas costas. Eu procurava uma forma de me desvencilhar do calção, colocar o biquíni mais para o lado. Meus dedos deslizavam pela coxa dela em busca do sexo, em busca do calor. Ela suspirava enquanto me beijava; toquei o sexo quente e ela me apertou, vasculhei com os dedos, ela se acomodava no meu colo. Sentia as unhas dela nas minhas costas, a boca quente engolindo a minha boca quente. Cheiro da água salgada, leve brisa! Coloquei um dedo até o fundo e ela me apertou mais. A mão dela escorregava pelo meu peito, procurava meu calção, me procurava duro naquele aperto dos corpos!

Liberdade. Ei-la. Segurou-me num misto de força e carinho; tesão e fome. Puxei o biquíni, ela me engolia, eu adentrava-lhe o corpo sedento, água fria; sexo quente. Ofegávamos, mexíamos como se a maré nos embalasse, como se a água definisse nosso ritmo. Eu sentia me faltar o chão, as ondas nos carregavam. Íamos cada vez mais fundo, cada vez mais quente, cada vez melhor!

Ela quente, molhada; eu duro, explodindo! “Goza junto comigo”, sussurrava. “Sempre”. Gozamos embalados pelas ondas, carregados pelo mar! Abraçados, eu ainda dentro dela, latejando, ela quente e eu sentia os músculos relaxando. “Vem”, eu falei ainda sem fôlego, “vem comigo”. Demos as mãos e nadamos até o raso, saímos da água, o vento morno aquecia os corpos: choveria em seguida e a praia estava deserta, não havia viva alma conosco.

A segurei pela mão e puxei de leve contra meu corpo, a água batia nos pés. Ela cintilava e eu também. Mais um beijo sedento, mais vontade, vontade sempre! Desejo infindável. Fomos até a toalha, a areia estava quente. Fumamos um cigarro, meio a meio, algo nosso, apenas nosso - eu gosto de dividir o cigarro com ela.

Ela procurava em mim o calor do meu corpo e eu procurava dela. Juntos cintilávamos, enquanto a noite caia. Falávamos alguma coisa aleatória e eu desenhava alguma coisa bonita na sua perna, ela passeava com a ponta dos dedos no meu braço! Havia algo de elétrico no ar, como uma tempestade se formasse e desferisse raios e trovoadas contra a terra, era bonito e singelo pensar na paisagem e ela estar presente.

“Já pensou se o tempo parasse agora? ” – Perguntou baixinho, meio tímida, meio misteriosa.

“Eu poderia dizer que o tempo parou no momento perfeito. ” – Respondi, enquanto ouvia o som das ondas quebrando.

Deitei apoiado nos cotovelos, ela se apoiou de lado, sobre o braço, me olhava com olhos estelares e eu via nela qualquer e todas razões possíveis para simplesmente sorrir. Ela me beijou – breve toque entre os lábios – e ficou com o rosto bem em frente ao meu, me encarando, eu sibilava mentalmente tantas coisas bonitas para dizer. A beijei de volta, meus dedos procurando caminho entre os cabelos, minha boca junto à dela. O sol se punha e fazíamos amor à beira mar.


Nenhum comentário: