sábado, 24 de outubro de 2015

Palimpsesto

O corpo mal esfriara e já pensavam no próximo passo.
Velado por dias.
O grito do moribundo se desfez, contemplando as portas do paraíso. Finalmente liberto, embalsamado, tomado.
Algo o consumia, corroía cada milímetro daquelas entranhas enrijecidas, geladas, pálidas. Novamente o palimpsesto. Outra história engendrada entre arranhões. Começo torto, final torto.
Tudo girando na polissemia redundante. O mundo dá voltas.
Há pouco enterrado e já viviam outros sorrisos.
Perverso mundo polimorfo que flutua em magma. Findou-se a volta do retorno. Nada mudou.
Túmulo fechado e tudo segue como a multidão pelas ruas, como a água na sarjeta. Ninguém disse que seria fácil tampouco qual o tratamento.
Quatro doses por dia poderiam ter sido suficiente, e não foram. Cinco, seis.O mundo em chamas e eu a fumaça. Fumaça do crematório, jazigo perpétuo com cama arrumada para dois.
Marcha fúnebre para dois, batido, não mexido. Whisky sem gelo. Vida que segue. E nas entranhas sempre há espaço para mais uma dose. 
Tudo em chamas na árvore de natal d'um riso reencontrado. He's going crazy.
Morre pelo menos cinco vezes por dia e a vida não para, não há tempo nem para morrer. Há de morrer de amar mais do que pode. Do amor, engole cada gota, mesmo que lhe escorram pelo rosto.
Come on baby, take a chance. I'll introduce you in this Devil Dance. And we dance 'till die five or six times. Não há razão de olhar pra trás.
Breite dune Flügel aus und flieg mit mir die Nacht. Because there is no reason to regret. 


Artífice da pantomima.


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