terça-feira, 13 de outubro de 2015

Pessoando

Nas brumas da noite, a madrugada cálida se distende entre as brumas, percorre o vento os cantos mais insólitos de mim, assim como tua alma a perspassar constantemente a minha numa dança monumental onde somos os ocupantes desse lugar tão heróico, a busca pelo amor finalmente encontrado, a plenitude completa das nossas almas esfaceladas pelo tempo. E eu sigo caminhando ao teu lado, tua mão segurando a minha e eu sinto o calor, sinto tua presença a cada passo, cada instante, ao fechar os olhos e me entregar ao sono, penso e repenso outra vez em ti, adormeço; acordo, desperto de sonhos onde embelezas harmoniosamente tantas telas pintadas.
O fogo chamusca as paredes da lareira e eu bebo o vinho, talho, retalho, dobro, desdobro e re-dobro pequenos manuscritos originais que um dia tornar-se-ão textos de verdade, transformo em escritura um sonho cigano. O vapor do chá deixa o ambiente morno e as gotas de chuva salpicam o telhado. Sigo escrevendo como se andasse por uma calçada, pulo poças d’água, costuro passos e procuro a ti em cada parte de mim. Novamente refaço algumas anotações, quebro margens, parágrafos, me aventuro em alguns versos e a tua imagem permanece ali, pirografada na minha retina. Desafio a mim mesmo em eternos confrontos literários.
Eis, então, na literatura te trago pra perto, ofusco a saudade no brilho do lampião aceso no canto da lareira, estremeço em êxtase ante a imensidão do tão sonhado futuro, planejo, replanejo, faço desenhos e tenho sonhos. Ironia, pois, a parte de ser nada, tenho todos os sonhos do mundo;

Nenhum comentário: